O menino Gael Kuquertt tem dois anos. È desta forma que ele fala da avó, e o que acha dela. Mas nem sempre a visão das pessoas sobre os avós é igual a de Gael. Para muitos, a idade se torna mais importante do que é realmente.
Mas qual o peso dessa visão? Para entendermos melhor, é importante diferenciar o envelhecimento da velhice. O primeiro é um processo natural da vida, que ocorre do nascimento até a morte. Afinal, a cada segundo, minuto, hora e dia, ficamos mais velhos. Isso não depende de nós. É a chamada Lei da Vida. Mas e a velhice? Ela pode ser definida como uma fase, que é identificada a partir dos 60 anos, segundo o Estatuto da Pessoa Idosa.
Mas se isso tudo é algo previsível e esperado, por que as pessoas se apavoram com a chegada dessa nova etapa na vida? As respostas podem ser múltiplas. Talvez a correria do dia a dia seja a principal. Os anos passam como um piscar de olhos e, quando menos se espera, os cabelos grisalhos estão lá. O corpo já não responde à mente, o banco do ônibus é cedido, os filhos já não estão mais em casa. Alguns formam uma outra família e aí vêm os netos pra chamar de vovó ou vovô.
Dados do Censo de 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, revelam que o Brasil possui mais de 32 milhões de pessoas acima dos 60 anos. Destas, mais de 37 mil possuem 100 anos ou mais, a maioria são mulheres. Em Caxias do Sul, são 45 pessoas acima dos 100, e mais de 83 mil com 60 anos ou mais. Entre as vovós centenárias está a dona Albertina Alves de Albuquerque. Ela é a cidadã mais longeva da cidade, com 114 anos. No início de novembro, ela recebeu o título de Cidadã Caxiense, concedido pela Câmara Municipal. Na sessão solene, a dona Albertina fez questão de destacar que, ao longo dos anos, ela nunca perdeu a fé em Deus.
Mas para chegar a tanta longevidade, os idosos precisam estar inseridos em atividades que colaborem para o envelhecimento saudável. Entre os programas que auxiliam nesta meta, está o UCS Sênior. A coordenadora, doutora em Educação e especialista em Gerontologia, Verônica Bohm, comenta que a velhice, hoje, é outra. As pessoas apresentam mais vitalidade, energia e disposição. Fatores que, muitas vezes, deixam o termo velho, apenas no papel.
O programa da Universidade de Caxias do Sul oferece atividades que estimulam o corpo e a mente, como: canto, dança, ioga, literatura, ginástica, inteligência emocional e outras. Verônica destaca que pessoas que se mantêm ativas e com um círculo de amizades tendem a ter uma melhor qualidade de vida.
Ainda segundo Verônica, muitos notam a passagem da vida quando estão na meia idade e a partir do comportamento de outras pessoas.
Já do ponto de vista médico, o especialista Dener Lizot Rech explica que diferentemente da pediatria, que trabalha com doenças agudas, a geriatria trata doenças crônicas. Ou seja, são aquelas que não aparecem do dia para a noite. São as que vão se desenvolvendo com o passar dos anos. Diversos são os problemas que podem ser acompanhados por um geriatra, independentemente se são cognitivos ou motores.
Segundo Dener, se o processo de envelhecimento for combinado com movimentação corporal e mental e acompanhamento médico, os resultados podem ser os melhores. Afinal, a solidão também é um desafio quando se atinge a velhice.
Mas e como é para quem passou ou passa por esse processo? Tudo depende da linha do tempo e da vida que teve. Entretanto, com leveza, bom humor e uma rede de apoio, o processo tende a ser tranquilo. É a etapa da vida em que os filhos estão criados e a própria vida é a principal preocupação. Afinal, estudiosos nos lembram de que a melhor idade é a em que estamos e sempre é hora de viver.
Lembra do Gael? Agora nós vamos ouvir a dona Maria Ivete da Costa Rauta, avó dele, de 62 anos. Ela lembra todas as fases percorridas e, dentro do processo de almejar uma longevidade como a dona Albertina. A aposentada sabe que a velhice faz parte e não tem como evitar a chegada dela. Por isso, ela deve ser encarada com naturalidade.
Dito tudo isso, e sem mais delongas, a lição é viver o agora. O medo do futuro pode existir, independentemente da idade, mas o receio pode paralisar e impedir a realização de sonhos e o alcance de metas. Nós não podemos mudar as coisas e nem congelar ou voltar no tempo. Então, o que nos cabe é aceitar esse processo e nos permitirmos a viver dia após dia, sem pressões ou cobranças.