As regiões de Cerrado e do Pantanal brasileiro enfrentam uma das piores temporadas de incêndios florestais dos últimos anos, com mais de 160 dias sem chuva, umidade relativa do ar abaixo de 10% e temperaturas que chegam a 47°C. Todos esses elementos juntos geram o cenário ideal para a ocorrência de incêndios e o combate ao problema tem exigido do Corpo de Bombeiros a adoção de estratégias complexas, conforme explica o major Silvano Oliveira Rodrigues. O militar integra o 11º Batalhão de Bombeiro Militar, da região das Missões no Rio Grande do Sul, mas está atuando, em operação especial, no Mato Grosso do Sul. Ele também preside a Câmara Técnica de Incêndios Florestais do Rio Grande do Sul.
Durante entrevista à Rádio Caxias nesta terça-feira (24), o major disse que o Corpo de Bombeiros tem 27 anos de experiência na área florestal e tem adotado estratégias de combate indireto do fogo, como a criação de aceiros – barreiras de solo sem vegetação – para controlar o avanço das chamas. O bombeiro veterano em situações de risco, esclarece que “a densidade demográfica menor da região centro-oeste brasileira facilita esse tipo de abordagem, diferente de áreas urbanas densamente povoadas, onde seria necessário um ataque mais direto”. Segundo Rodrigues, nos últimos anos, as mudanças climáticas, exacerbadas por eventos como La Niña, têm tornado esses incêndios cada vez mais freqüentes e severos, na região de Cerrado e Pantaneira. O militar ainda adverte que “grande parte desses incêndios são causados por ação humana, seja pelo manejo inadequado do solo ou atos criminosos”.
O bombeiro militar, complementa e explica, que no Pantanal a situação também é crítica, embora a região não tenha grandes plantações, a presença de gado é significativa, sendo essa uma importante fonte de renda para o estado e os municípios. Contudo, na região, os animais estão integrados ao bioma, entretanto, essa convivência pacífica está sendo ameaçada pelos incêndios, que afetam tanto os animais nativos quanto os de criação. Na visão do militar, a região também abriga vários assentamentos de pequenos agricultores, que muitas vezes, enfrentam dificuldades para se manter no campo devido às condições adversas.
Questionado sobre a reversibilidade do quadro, o major se emocionou ao dizer que isso depende de como o Brasil pretende encarar o problema. Conforme Rodrigues, “é preciso colocar ideologias políticas de lado e priorizar a adoção de medidas não apenas de combate, mas de prevenção a novos incêndios, o que requer uma maior consciência ambiental”.
Atualmente, 24 militares gaúchos estão envolvidos no combate aos incêndios florestais na região de Cerrado e Pantanal do Mato Grosso do Sul. Segundo o major, 70% desse combate a incêndios florestais são fruto de muito planejamento. Neste sentido, ele destaca que os bombeiros brasileiros têm vasta experiência internacional, tendo atuado em incêndios no Canadá, Chile, Argentina e em diversos biomas amazônicos. De acordo com ele, são profissionais capacitados para a missão. O major ainda fez questão de citar, durante a entrevista, o exemplo da Austrália, com seu clima e vegetação secos, é um dos países mais propensos a incêndios florestais no mundo. Segundo Rodrigues, o governo australiano aprendeu a lidar com a situação adversa e que é recorrente, pois entende que não é possível evitar que esses incêndios aconteçam, mas é possível combatê-los de forma eficiente. Portanto, o major acredita que o Brasil tem muito a aprender com aquele país.
“Apesar do tema ser complexo e multifatorial, ele tem implicações diretas da ação humana e criminosa, que não obedece à legislação vigente e não aprendeu a cultivar o solo de maneira sustentável”, adverte o major. Segundo Rodrigues, os prejuízos à flora e à fauna brasileiras também são imensuráveis, e a onda de fumaça que cobriu o país já devastou vastas áreas.
Confira aqui a entrevista completa.