O crescimento de uma situação que gera incômodo para algumas pessoas e insegurança para outras é um desafio para o poder público. O aumento do número de pessoas em situação de rua em Caxias foi o tema mais discutido na última semana na cidade. O assunto veio à tona, após o caso de um homem assassinado na madruigada do último domingo (25), enquanto passeava com o cachorro no bairro Rio Branco. O suspeito está preso e, inicialmente, foi apontado como morador de rua em estado de surto.
O caso comoveu não só a cidade como a região e o Estado. Chamou a atenção para a alta no número de pessoas habitando as ruas da cidade. O caso, inclusive, é comentado por moradores que observaram a mudança durante os últimos anos.
Na segunda-feira (26) seguinte ao crime, o prefeito Adiló Didomenico (PSDB) convocou um gabinete de crise para discutir a situação e as condições das pessoas que vivem nas marquises da cidade. Na oportunidade, o Executivo anunciou uma força-tarefa na abordagem dessas pessoas com o objetivo de direcionar cada uma para acolhimento ou cidades de origem.
A ação une esforços da Fundação de Assistência Social (FAS), Centro Pop Rua, Guarda Municipal e Secretaria Municipal da Saúde. A determinação foi colocada em prática já na noite de segunda. O prefeito frisou que o foco do grupo de trabalho está no recadastramento dessas pessoas e também na desobstrução de passagens. Os pertences também poderão ser retirados, tudo, segundo Adiló, amparado pela lei.
O prefeito ainda solicitou que o auxílio para estas pessoas seja repassado para entidades, nunca diretamente a quem vive nas ruas. Ele conta que a força-tarefa também busca proporcionar mais segurança para a população. A garantia do prefeito é de que todos serão assistidos pelas equipes.
A diretora de Proteção Social de Média Complexidade da FAS, Cristiane Oliboni, detalha como acontece a abordagem das pessoas em vulnerabilidade. Ela explica que os órgão não possuem a autorização para retirada forçada dos moradores de rua. As casas de acolhimento possuem capacidade, hoje, para cerca de 120 pessoas, o que pode garantir espaço para todos que aceitarem passar pelo processo de acolhimento.
Entretanto, as ações do Executivo foram contestadas por representantes da comunidade, no poder público. Durante entrevista à Rádio Caxias, um dia depois do início da força-tarefa, o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania do Legislativo, vereador Lucas Caregnato (PT), destacou que a crescente de pessoas em situação de rua é notória em diversas cidades de médio e grande porte.
O parlamentar apontou que o caso apenas repercutiu outro grave problema da cidade: a segurança pública. Caregnato cita que a atenção para esse público se volta apenas quando um fator extremo obriga que o poder público volte a atenção para quem vive em situação de rua.
O petista comentou ainda a que a iniciativa anunciada por Adiló Didomenico na segunda-feira não é nenhuma novidade. Isso porque o serviço de cadastro e acolhimento já existe na cidade. Lucas Caregnato opina sobre o pedido da prefeitura de que doações não sejam feitas diretamente para as pessoas que vivem na rua.
Como integrante da força-tarefa, o secretário de Segurança Pública e Proteção Social, Paulo Roberto da Rosa, também se manifestou na Rádio Caxias. Ele explicou que quando as pessoas em situação de rua são da cidade, o contato com as respectivas famílias é mantido pela FAS. Ele citou que a grande maioria vive com a questão de dependência química e de álcool. Além disso, muitas dessas pessoas optam por ficar na rua e não buscar acolhimento.
Segundo o levantamento da FAS, existem cerca de 750 pessoas em situação de rua em Caxias do Sul. A força-tarefa na primeira madrugada, na segunda-feira (26), abordou seis pessoas. Destas, quatro foram encaminhadas para acolhimento, sendo que duas delas disseram estar de passagem por Caxias. Uma delas foi encaminhada para tratamento de dependência química.
Novos dados sobre a força-tarefa foram solicitados para à assessoria Fundação de Assistência Social (FAS), que disse possuir, até o fechamento da reportagem, apenas os números da primeira noite.
Sobre o crime que desencadeou todo o debate, o Comitê Pop Rua de Caxias do Sul publicou uma nota oficial, na terça-feira (27), negando que o autor do crime seja uma pessoa em situação de rua. Segundo o boletim o homem possui um endereço fixo, é morador de um bairro próximo ao local da ocorrência e é uma pessoa com transtorno mental grave. O acusado também é natural de Caxias do Sul.
A respeito da convocação do gabinete de crise, o Pop Rua disse que foi surpreendido com a notícia da formação do grupo para tratar dos “moradores de rua” na cidade. Ainda, disse não ter sido convidado para participar das discussões. O comitê demonstrou preocupação com as ações anunciadas pelo Poder Executivo Municipal e a repercussão das falas na comunidade, visto que podem desencadear posturas hostis.