Em 1994, o Brasil enfrentava uma crise econômica marcada pela hiperinflação desenfreada. Os preços subiam vertiginosamente, corroendo o poder de compra dos brasileiros e gerando incerteza generalizada. Foi nesse cenário que o Plano Real entrou em cena, marcando um ponto de virada na história econômica do país.
Imagine a cena: consumidores aflitos, correndo aos supermercados para encher os carrinhos, pois, a qualquer momento, poderia haver uma nova marcação de preços, não apenas uma, mas duas e até três vezes, ao dia. O cenário hipotético tem relação direta com o real, na verdade, com o Plano Real que, em 2024, completa 30 anos.
Criado em 1994, durante a Copa do Mundo, a nova moeda surgiu com a promessa de pôr fim a angustia de milhões de brasileiros que, sentiam no bolso, os efeitos diretos da forte inflação no país e assistiam com completa inércia, o seu poder de compra se esvaindo, pois o salário não acompanhava a inflação.
Esse verdadeiro oásis econômico, que despontou em meio à dificuldade de fazer o rancho — e que, até hoje, de certa forma, exerce influência nos consumidores, com velhos hábitos, mas que, atualmente, não se mostram tão vantajosos — foi alvo de muita discussão há época.
Para entender melhor sob em que cenário ele surgiu e os efeitos práticos disso, na vida de nós, brasileiros, a Rádio Caxias conversou com o um dos personagens chave da implantação do Plano Real no Brasil. O professor, advogado e diplomata brasileiro, Rubens Ricupero, ele que assumiu o posto, anteriormente, ocupado pelo ex-presidente da república, Fernando Henrique Cardoso. O economista foi ministro da Fazenda, no governo de Itamar Franco, entre 30 e março e 06 de setembro de 1994, época do advento do Plano Real.
O ex-ministro conta que a nova moeda, a oitava instituída no país, foi criada pela equipe econômica chefiada pelo, então, ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso. O economista explica que o plano tinha como objetivo principal estabilizar a moeda, a fim de controlar a inflação, que minava o salário dos trabalhadores e a capacidade de consumo da população.
Entre as décadas de 1980 e 1990, o Brasil vivenciou taxas de inflação astronômicas, ultrapassando até 3 mil por cento, ao ano. O ministro lembra que a desvalorização da moeda era uma consequência direta da política de pagamento dos juros da dívida externa, o que resultava em preços exorbitantes e uma inflação interna descontrolada. Neste sentido, o economista chama atenção para um dos principais feitos do Plano Real, frear a hiperinflação, trazendo estabilidade à economia, logo no seu lançamento, em julho de 1994. Situação completamente diversa da que se via antes do Plano Real, onde a remarcação de preços era uma realidade constante para os brasileiros.
Com a nova moeda a estabilidade foi restaurada, e os brasileiros deixaram de viver na incerteza das remarcações frequentes. Conforme o ex-ministro, desde a adoção do Real, o poder de compra do brasileiro sofreu um impacto significativo, tanto é que para adquirir o equivalente a R$ 1, daquela época, seria necessário, hoje, desembolsar o equivalente a R$ 7,77. Ainda assim, na opinião do entrevistado, o Plano Real é visto como uma tentativa bem sucedida de estabilizar a economia brasileira, beneficiando a população, ao conter a inflação e preservar o poder de compra. No entanto, o ex-ministro também admite que os desafios e legados deixados pela nova moeda continuam a moldar o cenário econômico do país.
O ex-ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, também apontou desafios, como a necessidade contínua de reformas estruturais, a fim de manter a estabilidade financeira, a exemplo do enxugamento da máquina pública. Ou seja, na opinião do ministro, ainda que benéfica, a trajetória econômica do Brasil requer vigilância constante e políticas sólidas para evitar retrocessos.
Reportagem: Noriana Behrend e Edição de Áudio: Michel de Oliveira