Nos últimos anos, Caxias do Sul tem se destacado como um ponto de chegada para milhares de imigrantes em busca de abrigo e oportunidades. Esse movimento migratório não é novo, na região da Serra Gaúcha. Os primeiros registros datam de 1875, quando Nova Milano, hoje parte de Farroupilha, viu os primeiros indícios migratórios. Desde então, essa área tem sido constantemente enriquecida por pessoas de diferentes estados e países, que vêm em busca de emprego e um novo lar.
Nos últimos anos, essa tendência tem se intensificado, com um número sem precedentes de pessoas de diversas nacionalidades, que escolheram Caxias e região, como destino. Apenas em 2023, mais de 45 nacionalidades diferentes foram contabilizadas. A maioria recebida pelo Centro de Atendimento ao Migrante (CAM). O órgão, conhecido pelo compromisso inabalável com o acolhimento e apoio àqueles que estão passando por momentos delicados, atende migrantes, refugiados, pessoas apátridas e vítimas de tráfico humano, independentemente da fé, cultura ou tradição.
O CAM pertence à congregação das Irmãs Scalabrinianas: congregação que nasceu para ‘’os migrantes, com os migrantes’’. Ele dá seguimento à missão que surgiu para acolher os imigrantes italianos cresceu junto às demandas por garantia de direitos e suporte jurídico. A comunidade já tem 127 anos de atuação em Caxias, e está presente em 27 países. O advogado e coordenador de responsabilidade social do CAM, Adriano Pistorello, destaca o trabalho estratégico que o centro executa na cidade.
Ele ressalta que só no passado, foram mais de 14.000 atendimentos, beneficiando cerca de 380 pessoas de 20 nacionalidades diferentes. Números que refletem o impacto significativo que a instituição tem na vida dos imigrantes e refugiados locais.
Um dos programas oferecidos pelo Centro é o Conecta. A finalidade é implementar métodos de trabalho mais eficientes para atender às necessidades dos migrantes. Recentemente, foram realizados workshops semanais focados na confecção de currículos, dicas para entrevistas de emprego e orientações sobre como procurar vagas em diversas plataformas. As iniciativas visam capacitar os imigrantes a se integrarem mais facilmente à sociedade local e a conseguirem emprego de forma mais rápida e eficaz, como explica Pistorello.
Um dos maiores desafios enfrentados pelos imigrantes ao chegarem a Caxias é a barreira do idioma. Muitos chegam sem dominar o português e sem saber por onde começar A jornada de estabelecimento na cidade. Por isso, o CAM oferece a segunda edição do curso de adaptação e conhecimento da língua portuguesa. Desta vez, em parceria com o programa Capacita Caxias e o Instituto Federal de Educação, ciência e Tecnologia do Estado (IFRS). O objetivo é facilitar a integração dessas pessoas na comunidade local. Por meio do programa já foram realizados 249 atendimentos, 170 encaminhamentos para vaga de trabalho, 14 currículos confeccionados, 31 participações em oficinas de aprendizagem para emprego, renda e pesquisa. O coordenador dos cursos e também professor de algumas aulas da edição passada do curso de português, Gabriel Scalabrin, relata os maiores desafios enfrentados no período.
A venezuelana Eliana Guilard é uma das pessoas que busca a realização dos sonhos, em Caxias. Ela que veio de Pacaraima, no estado de Roraima. Chegou aqui em 2021, acompanhada da mãe e da filha de 8 anos. O incentivo para a mudança veio do cunhado, que já morava na cidade e compartilhou a experiência positiva de acolhimento e transformação de vida.
Eliana decidiu embarcar nessa aventura na Serra Gaúcha, trazendo a família. Primeiro ela, e logo depois o marido, que veio do Peru. Hoje, a família está completamente integrada à cidade e à região, todos empregados e estabelecidos. Eliana foi uma das participantes da primeira edição do curso de português. A imigrante destaca como o domínio da língua a fez sentir-se mais segura e inserida na comunidade local.
O poder público tem desempenhado um papel fundamental nessas iniciativas, fortalecendo as instituições parceiras e promovendo uma maior empregabilidade para os imigrantes. O secretário do Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Emprego, Élvio Gianni, enfatiza o compromisso do Município em apoiar o acolhimento aos migrantes.
O curso de português, que tanto faz a diferença na vida dessas pessoas, segue com inscrições abertas até o dia 29 de março, com 16 vagas disponíveis para migrantes, a partir de 18 anos, residentes em Caxias. As aulas serão ministradas de forma presencial, de 09 de abril a 20 de junho, nas terças e quintas à tarde. Uma oportunidade considerada valiosa para os migrantes que desejam melhorar as habilidades linguísticas e aumentar as chances de integração e sucesso na comunidade..
Outro fator importante é o aumento significativo no número de mulheres assistidas pelos serviços do CAM, nos últimos anos. Em alguns períodos, o percentual superou consideravelmente o de migrantes do sexo masculino. O dado ressalta a importância contínua de focar os esforços em prover assistência e proteção adequadas às mulheres migrantes e refugiadas. O compromisso é garantir que os direitos e a dignidade delas sejam preservados durante todo o processo migratório. Eliana conta como descobriu o atendimento do CAM e destaca o quanto o trabalho de acolhimento facilita o acesso ao cotidiano do município.
Atualmente, o Centro de Atendimento ao Migrante já tem registros de imigrantes vindos de 28 países diferentes, que passaram por Caxias do Sul em busca de ajuda. Para as empresas interessadas em conhecer o projeto e oferecer oportunidades de emprego aos imigrantes, é possível entrar em contato com o Centro pelo telefone (54)3027-3360. Além disso, tanto os empresários quanto os imigrantes podem visitar a equipe pessoalmente na Rua Professor Marcos Martini, nº1600, no bairro Santa Catarina, em Caxias do Sul. Essa é uma chance de promover a inclusão e diversidade no mercado de trabalho local, ao mesmo tempo em que a comunidade pode apoiar os recém-chegados, na jornada de integração e crescimento.