Um estudo conduzido com apoio daOrganização Mundial de Saúde (OMS) e divulgado pela revista científica The Lancet, indica que mais de um bilhão de pessoas está acima do peso em todo mundo. O quadro de obesidade cresceu 350% em três décadas, alarmando pesquisadores. O estudo foi desenvolvido por uma rede de cientistas e oferece dados assertivos quanto aos principais fatores de risco, em se tratando de doenças não transmissíveis em casos da obesidade.
A pesquisa global avaliou o peso e altura de mais de 220 milhões de pessoas, a partir de cinco anos, em mais de 190 países. Contribuíram com o levantamento mais de 1.500 pesquisadores, que analisaram o índice de massa corporal (IMC) dessas pessoas, a fim de entender como a obesidade e o baixo peso mudaram a silhueta do mundo entre 1990 e 2022. No total, 879 milhões de adultos podiam ser considerados obesos em 2022, o que representa um salto de 350% em comparação com 1990.
Uma dessas pessoas é a confeiteira, Andrélis da Silva Brando, de 31 anos. Ela conta que fez a cirurgia em 2021, quando pesava 120 kg e por orientação médica, uma vez que tinha inúmeras comorbidades associadas, como pressão alta, apneia do sono e estar pré-diabética. Desde o procedimento, ela perdeu 48 kg. A trabalhadora relata que a vida mudou drasticamente, inclusive, exigindo que ela incluísse na rotina a atividade física, que antes não realizava por que não tinha a mobilidade necessária, já que o IMC dela chegou a ser de 43, ou seja, obesidade grau III.
No entanto, a adaptação não foi fácil e exigiu muita disciplina e terapia, antes e depois do procedimento. Contudo, a persistência trouxe mais do que qualidade de vida, restituiu a sua auto-estima. Contudo, o ganho que de peso já não assusta mais a confeiteira, que aprendeu a lidar com a própria ansiedade e para isso contou com a ajuda profissional.
A maioria dos pacientes que se submetem a cirurgia bariátrica tem a necessidade de realizar uma cirurgia estético/reconstrutiva, conforme explica a médica especialista em cirurgia plástica, Adriana Milani. A médica esclarece que o paciente que faz uma bariátrica precisa ter em mente o que está por vir, ou seja, as mudanças que essa decisão trará para a vida dele.
No entanto, a decisão segue válida, principalmente, porque demonstra, conforme a especialista, amor-próprio e auto-cuidado. Portanto, a cirurgia plástica exerce uma função não apenas estética nestes casos, mas também reconstrutiva. Contudo, exige paciência redobrada, persistência e muita perseverança por parte do paciente.
Segundo a professora do curso de Medicina da Universidade de Caxias do Sul, e mestra em endocrinologia, Natália Guedes Conte, a obesidade é considerada uma doença crônica e um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. Ela explica que de acordo com os dados apresentados pela pesquisa, se nada for feito, até 2035, cerca de 50% das crianças terão excesso de peso no Brasil. E que isso é reflexo, entre outras coisas, da má alimentação dessas crianças, principalmente, pela ingestão exagerada de alimentos ultraprocessados.
Uma medida usada internacionalmente para o diagnóstico e classificação de sobrepeso e obesidade em adultos é o Índice de Massa Corporal (IMC), que é calculado pela divisão do peso de uma pessoa e a sua altura ao quadrado. Apesar disso, o IMC por si só não é suficiente para definir a gravidade do sobrepeso, sendo essencial avaliar outros fatores clínicos. Neste sentido, a médica explica que o quadro reduz a qualidade de vida do indivíduo, além de predispor a mais de 200 doenças, a exemplo de problemas: cardiovasculares, diabetes, asma, gordura no fígado e até 13 tipos de câncer.
A obesidade tem sido frequentemente abordada em discussões sobre padrões estéticos na sociedade atual. No entanto, além dos aspectos relacionados à saúde física, a condição também pode desencadear consequências psicológicas graves, como a diminuição da autoestima, o estresse e a presença de transtornos depressivos e, mesmo, alimentares.
A professora/doutora do curso de psicologia da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Raquel de Melo Boff, explica que esses casos são comuns e que a dependência por álcool acontece, principalmente, por que a bebida acaba servindo como substituto ao vício por comida. Corroborando a informação de que é preciso um acompanhamento multidisciplinar, a fim de tratar a obesidade.
Raquel esclarece que muitos fatores podem levar às pessoas a comerem compulsivamente, inclusive, para preencher vazios emocionais causados por diversos motivos, como dificuldades no trabalho e questões afetivas. Ou seja, o alimento vira uma válvula de escape e fornece a sensação temporária de prazer, funcionando como alternativa momentânea para a solução de problemas. No entanto, isso acaba virando um ciclo vicioso.
Além disso, a profissional explica a influência cultural exercida neste contexto, exigindo corpos cada vez mais esculturais e super valorizando certos estereótipos. A profissional ainda fez questão de frisar a diferença entre obesidade exógena, ou seja, aquela decorrente de uma ingestão excessiva de calorias; da endógena, que é acompanhada ou decorrente de outras doenças.
O controle da obesidade é alvo de preocupação dos mais diversos profissionais da saúde, como nós pudemos perceber, assim como de governos e da sociedade em geral devido ao aumento da sua ocorrência na população, sobretudo, nas últimas décadas. Inclusive, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que, em 2015, o número estimado de pessoas obesas ou como sobrepeso era de 82 milhões, o que configura um verdadeiro problema de saúde pública. Portanto, a gente finaliza essa reportagem alertando os ouvintes de que o problema é sério, inspira cuidados e, sendo assim, precisa do devido tratamento. Se for o seu caso, procure ajuda! Afinal, é preciso saber viver e isso demanda cuidados com a saúde física e mental.