A idade chega para todos. Essa é uma das coisas que não temos como impedir. O tempo não é misericordioso, chegando a ser quase que impiedoso em alguns momentos. E ter alguém do lado para lhe cuidar quando você não consegue mais fazer isso, é essencial, mas nem todos pensam assim. Às vezes, nem mesmo a própria família.
A violência contra idosos é algo que se tornou mais comum do que gostaríamos. Em Caxias do Sul, o registro deste crime cresceu. Em comparação entre janeiro e maio de 2023 com o mesmo período de 2024, as ocorrências aumentaram mais de 134%. A Delegada do Cartório do Idoso do município, Thalita Giacometti Andrich, traz estes dados.
De todos esses casos, o que está se tornando recorrente é a violência financeira, quando os idosos são extorquidos pela própria família ou até cuidadores. A Delegada Thalita comenta o que têm recebido de denúncias nos últimos meses.
E o depois? Para aonde esses idosos vão após sofrer uma agressão dentro da própria casa, essa que, por muitas vezes, foi construída com muito suor e dedicação? O Lar da Velhice São Francisco de Assis existe há mais de 60 anos em Caxias e atualmente cuida de 74 idosos, destes, pelo menos 30% sofreram algum tipo de violência.
A psicóloga do Lar, Cristina Tristaci, trabalha há dois anos no espaço e revela algumas das situações que vivenciou durante esse período.
E como fica a mente de um pai ou de uma mãe que foi agredido pelo próprio filho? Sabemos que em muitos casos, os idosos já estão tão debilitados que não conseguem lembram nitidamente o que aconteceu, mas e os que ainda estão saudáveis? Como cura uma ferida que vai além do físico? Cristina explica como trabalham com esses tipos de situações.
No entanto, trabalhar com essas pessoas também não é algo fácil e é preciso ter muita paciência e um certo humor. A cuidadora, Senara Borges, de 49 anos, que o diga. Ela relata sua experiência e histórias que vivenciou no período em que trabalhou em uma casa de repouso.
Já na vivência da cuidadora Mirta Raquel Loiola, de 51 anos,foi necessário um outro tipo de atenção, pois precisou atender uma senhora que havia sofrido abuso sexual.
Contudo, Mirta revela que sente que o trabalho de ser cuidadora é gratificante.
Pelos relatos ouvidos, acredito que trabalhar com idosos é uma montanha-russa de emoções, mas temos que aprender a nos colocar no lugar deles. Já imaginou poder fazer tudo que sempre fazia e de uma hora para outra, isso ser tirado de você? Como a liberdade de tomar suas próprias decisões, se tornando vulnerável para qualquer pessoa. A Delegada Thalita ainda comenta como é difícil para os mais velhos entenderem que estão sofrendo algum tipo de violência.
No Brasil, existe o Estatuto do Idoso, que assegura os direitos de pessoas acima dos 60 anos, lhes oferecendo uma rede de proteção, pois a violência não precisa ser somente uma agressão física, pode ser uma chantagem para assinar algum documento importante, uma ameaça, uma privação de sair de casa ou de não lhe permitir acessar seus pertences, principalmente como cartões bancários e outras propriedades. É preciso ficar atento aos sinais e se estiver passando por algo parecido, denuncie. Os canais são o Disque 100 ou pelo WhatsApp do Cartório do Idoso de Caxias do Sul, número (54) 98408-9924.
Às vezes, a família desiste do próprio sangue antes de que qualquer outra pessoa, mas o mundo é grande, e mesmo com tantas coisas ruins, há pessoas boas que estão dispostas a oferecer o amor que merecemos e que precisamos. Envelhecer nem sempre é bom, mas é um ciclo. Aceitá-lo é uma necessidade e que não cabe a nós contrariar.