A luta pela igualdade entre gêneros é uma questão de longa data. Contudo, os avanços que nós mulheres fizemos ao longo do tempo são inegáveis, ainda mais quando lembramos que direitos básicos, como: o de poder trabalhar, sem depender da anuência do pai ou do marido, ou mesmo, o de poder votar e se candidatar a cargos públicos foram conquistados há menos de um século.
A história do Brasil é marcada por mulheres notáveis, como Dandara, Nísia Floresta, Maria Quitéria, Catarina Álvares Paraguaçu, Narcisa Amália, Bertha Lutz e Carlota Pereira de Queirós. Talvez, muitas delas você nem tenha ouvido falar. Mas, o fato é que elas foram pioneiras e resistiram em tempos difíceis, pavimentando o caminho para uma sociedade mais justa e com direitos básicos garantidos para todas nós mulheres.
O Dia Internacional da Igualdade Feminina, celebrado em 26 de agosto, lembra a conquista do voto feminino nos EUA, em 1920, que só chegou ao Brasil, em 1934, e se tornou obrigatório, apenas, em 1946. Desde então, as mulheres têm conquistado mais espaço e voz, como explica a professora Eliana Gasparini Xerri, da Universidade de Caxias do Sul.
A professora argumenta que a colonização europeia trouxe consigo uma sociedade patriarcal que perpetuou a ideia de que o poder emana do homem. Essa visão conservadora, que considera a mulher dependente do homem, ainda persiste. No entanto, algumas mulheres, como Nísia Floresta, conseguiram romper com essas normas conservadoras. A professora Eliana Xerri também destaca que a educação formal para mulheres no Brasil só começou em 1827, mas poucas tiveram acesso devido às restrições sociais e econômicas da época.
Luciane Chaves de Araújo, 42 anos, motorista de transporte público, é um exemplo de mulher super poderosa do século XXI. Inspirada por um primo caminhoneiro, ela se tornou motorista, após seis anos de esforço. Ela conta que está na profissão há 18 anos, recebendo elogios tanto de homens quanto de mulheres. A família sempre a apoiou, apesar de algumas dúvidas iniciais.
Ao longo da história, muitas mulheres brasileiras desafiaram as convenções sociais e políticas, tornando-se símbolos de resistência e inovação. Apesar dos avanços, a desigualdade de gênero no mercado de trabalho persiste, segundo a coordenadora do Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul, professora Lodonha Maria Portela Coimbra Soares. A pesquisadora explica que, no Brasil, as mulheres foram formalmente reconhecidas como força de trabalho com a consolidação das leis trabalhistas, mas sua inclusão tem sido gradual e desigual. A ONU Mulheres foi criada para abordar essas disparidades, especialmente salariais, onde a diferença média é de 19,4%.
Em Caxias do Sul, a diferença salarial entre homens e mulheres é de cerca de 17%, menor do que a média de 25% no Rio Grande do Sul. As mulheres predominam nos setores de serviços, comércio e indústria, e sua participação na indústria tem crescido. Elas entram no mercado de trabalho com mais anos de estudo e muitas são chefes de família. A desigualdade salarial persiste devido a preconceitos na contratação e preferência por trabalhadores masculinos, sendo mais acentuada no sul do país.
Quem conhece bem essa realidade é a estudante de engenharia mecânica, Emanuela Carolina Dresch. A experiência acadêmica da estudante foi marcada por desafios relacionados ao gênero, especialmente, pelo fato do curso ter uma presença feminina escassa. Segundo Manuela, a sua competência para ocupar aquele lugar sempre é colocado em xeque, ela ainda cita a disparidade salarial neste meio profissional, além do preconceito.
Desde a luta pelo direito ao voto até a conquista de espaços na ciência, política e artes, essas mulheres pioneiras abriram caminhos e inspiraram gerações. Elas enfrentaram barreiras sociais e criaram novas possibilidades, lembrando-nos que a luta pela igualdade de gênero é contínua e cada conquista é um passo rumo a um futuro mais justo e inclusivo.
No futebol, a presença feminina é notável. Desde os anos 1920, com as primeiras partidas, até a proibição em 1941, revogada apenas em 1979, o preconceito e a falta de apoio foram grandes obstáculos. Hoje, o futebol feminino ganha mais visibilidade e respeito, com jogadoras como Marta, eleita seis vezes a melhor do mundo, sendo fundamentais para essa mudança.
Em Caxias do Sul, a reportagem conversou com a jogadora, Tayane Fabiano Belarmino, lateral esquerda do Juventude feminino, ela é exemplo disso e fala sobre sua experiência como atleta profissional e os desafios que precisou enfrentar.
A disparidade salarial é um dos aspectos que mostram a desigualdade entre homens e mulheres. Um estudo da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2020, revelou que homens recebem salários 14% maiores que os das mulheres. Além disso, apenas 25% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres e, muitas vezes, elas não ocupam posições de influência nas corporações e instituições.
A engenheira e gerente de Operações, Ana Paola Sartori, afirma que a situação tem mudado nas últimas décadas. Com mais de 20 anos de carreira, ela destaca que, no início, a prova era diária. Desde criança, Ana Paola queria conquistar posições maiores em grandes companhias e, com esforço e dedicação, conseguiu. Formada em polímeros e com mestrado em ciência e engenharia de materiais, ela observa que, embora a área química tenha mais mulheres, ainda eram minoria em sua turma, com apenas 20%. Hoje, Ana Paola garante que não há mais tantas discrepância de gênero e acredita que as empresas da região aprenderam a lidar melhor com a inserção de mulheres no mercado de trabalho.
A cientista social, Aline Passuelo, discorda e explica que, em uma sociedade com trabalhadores precarizados, as mulheres enfrentam até tripla jornada de trabalho, incluindo afazeres domésticos historicamente atribuídos a elas. Apesar dos avanços, as mulheres ainda enfrentam uma carga mental significativa tanto no trabalho quanto em casa. Aline destaca a necessidade de uma divisão mais equitativa dessas responsabilidades e critica a persistente desigualdade salarial entre homens e mulheres, considerando-a injustificável. Além disso, Passuelo aponta que as mulheres ainda enfrentam questionamentos discriminatórios em entrevistas de emprego.
Devido à estrutura social, as mulheres foram por muito tempo relegadas a papéis de servidão no mercado de trabalho, especialmente, nas áreas de exatas e que exigem esforço físico. Alice Falqueto, técnica em Mecânica, é um exemplo de mulher que superou preconceitos em um ambiente predominantemente masculino. Apaixonada por carros, ela trocou a pedagogia pela mecânica e trabalha em uma oficina, desde 2013, enfrentando preconceitos, principalmente, de homens que duvidam de suas habilidades profissionais. Alice critica os estereótipos de que mulheres não podem trabalhar em mecânica ou que, se o fazem, não são femininas.
Uma pesquisa de 2015 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) listou as carreiras preferidas por homens e mulheres no Brasil, mostrando baixa representatividade feminina em profissões como: barman, bombeiro, motorista, serralheiro e auxiliar de produção. Para promover igualdade, diversidade e inclusão social, é essencial que os ambientes de trabalho estejam livres de preconceitos, afetando não só mulheres, mas também pessoas cisgênero, transgênero e não-binárias. Mas, isso é tema para próxima reportagem especial.
Por ora, vamos celebrar e honrar essas mulheres incríveis que com sua coragem e visão mudaram o curso da história brasileira. Que suas histórias nos inspirem a continuar lutando por um mundo onde todas as vozes sejam ouvidas e valorizadas!
Se você curtiu, aproveite para compartilhar essas histórias com outras mulheres super poderosas!