Conforme Alison Centeno, pós-doutorando em Sociologia e Ciência Política da PUC-RS, o atual cenário político brasileiro está profundamente marcado por um debate empobrecido, que tem sido exacerbado pela proliferação de fake news e por um processo legislativo que se mostra cada vez mais desconectado da realidade social do povo. Centeno, que também é doutor em Ciências Sociais e bacharel em Economia, afirma que essa pauta não é prioritária em um país que ainda convive com altos índices de pobreza, analfabetismo e vulnerabilidade social.
“A situação é alarmante. Conseguimos sair do quadro de pobreza extrema, mas ainda temos milhões de brasileiros vivendo em condições precárias. O debate público deveria se concentrar em questões urgentes, como direitos sociais e a melhoria das condições de vida da população”, ressalta Centeno.
Ele critica a falta de propostas concretas por parte das candidaturas, especialmente, em relação a temas ambientais e de infraestrutura urbana, que se tornaram mais evidentes, após os desastres naturais que afetaram cidades como Porto Alegre e Caxias do Sul. Ao analisar o contexto eleitoral, Centeno observa que o índice de abstenção nas últimas eleições foi alarmante: quando um em cada quatro eleitores de Caxias do Sul e quase um em cada três de Porto Alegre decidiu não comparecer às urnas no primeiro turno. Essa situação, segundo ele, é resultado de uma combinação de fatores, incluindo questões sociodemográficas, como o envelhecimento da população e a facilidade oferecida pela Justiça Eleitoral em justificar a ausência, através de aplicativos como “e-Título”. Segundo o doutor Centeno, em Porto Alegre, cerca de 15% do eleitorado tem mais de 70 anos, enquanto uma parte significativa da juventude, com idades entre 16 e 18 anos, também opta por não votar.
“O que estamos vendo é um desinteresse generalizado, impulsionado pela praticidade de não comparecer e pela percepção de que o voto não resulta em mudanças significativas. Isso é particularmente visível em um contexto onde a polarização política e a disseminação de notícias falsas minam a confiança na política”, afirmou.
Na opinião de Centeno, a exaustão do eleitorado, especialmente, após as eleições de 2022, que foram extremamente polarizadas, é outro fator relevante. Centeno observa que muitos eleitores se sentem sobrecarregados e desiludidos, levando a uma apatia em relação ao processo eleitoral.
“Quando a política é dominada por embates entre extremos, o eleitor mediano acaba se afastando, o que é preocupante para a democracia”, destacou.
O acadêmico também menciona que essa falta de engajamento é um sinal claro para a classe política.
“Quando os cidadãos optam por não votar, estão, na verdade, enviando uma mensagem de descontentamento. Isso pode resultar em uma carta branca para que os políticos adotem posturas irresponsáveis, muitas vezes alinhadas a ideologias extremas, que não refletem os interesses da maioria”, explica.
Centeno ainda criticou a cultura do voto obrigatório, que foi idealizada na Constituinte como um meio de educar a cidadania. Ele sugere que, embora o voto facultativo possa parecer uma solução, isso também revelaria a desconexão da sociedade com os valores democráticos.
“Estamos muito distantes do que foi idealizado. O voto deveria ser um exercício consciente de cidadania, mas o que vemos é um crescente desencanto com a política e uma preferência pela inatividade”, concluiu.
Em suma, a análise de Alison Centeno aponta para a necessidade urgente de um debate público mais rico e focado nas demandas reais da sociedade brasileira. Para ele, é fundamental que a política retome sua função de representar os interesses do povo, ao invés de se perder em discussões superficiais e polarizadas, que apenas afastam os cidadãos da participação ativa em questões que realmente importam.