Como diria o terapeuta Jader Amadi, “o verdadeiro deficiente visual é aquele que não consegue enxergar com os olhos do coração”. Desta forma, ver a vida está além da condição física. A busca pelo conhecimento pode transcender diagnósticos, e é assim que o toque e o sentir se tornam mais perceptíveis, à medida que o mundo se revela diferente através dos olhos.
A deficiência visual, considerada pela ciência como qualquer perda ou anormalidade da estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, reflete um estado patológico e, inicialmente, indica distúrbios no órgão ocular. Pode variar em gravidade e se manifestar como baixa visão ou visão subnormal, proximidade da cegueira ou cegueira total.
No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que existem mais de 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual no Brasil, destas, 500 mil são consideradas cegas e cerca de 6 milhões com baixa visão. O diagnóstico de cegueira ocorre quando não há percepção de luz. Nesses casos, o uso do sistema Braille, bengalas e treinamentos de orientação e mobilidade não são opcionais, mas sim fundamentais.
Celebrado nesta semana, em 8 de abril, o Dia Nacional do Braille nos remete ao sistema que revolucionou a escrita para pessoas com deficiência visual.O sistema Braille foi oficializado em 1852 para permitir que pessoas com deficiência visual, parcial ou total, pudessem ler através do tato.
Criado por Louis Braille, que nasceu em 4 de janeiro de 1809, após perder a visão aos cinco anos de idade. Inspirado pelo método Valentin Haüy, Braille desenvolveu um sistema mais prático e eficiente, que foi oficialmente aceito em 1843. O sistema permitiu uma revolução na educação para cegos, sendo disseminado pela Europa.
No Brasil, José Álvares de Azevedo, nascido em 8 de abril de 1834, foi fundamental na introdução do Braille. Após estudar no Instituto Real dos Jovens Cegos de Paris, voltou ao Brasil e se dedicou a ensinar o método, influenciando até mesmo o Imperador D. Pedro II na fundação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos, hoje Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro. José faleceu aos 20 anos, pouco antes da inauguração da escola, mas sua contribuição é celebrada até hoje, pela data.
Em Caxias do Sul, o braile está presente na educação de jovens que possuem este diagnóstico por meio da Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Visuais (APADEV), fundada em 29 de novembro de 1983, com a finalidade de educar e reabilitar pessoas com deficiência visual.
Conforme o coordenador da Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Visuais (APADEV), Tiago Koch Peres, o local é considerado fundamental na habilitação e reabilitação frente ao diagnóstico e aos desafios enfrentados. Koch salienta as diferenças utilizadas nas bengalas de deficientes visuais, além das atividades promovidas pela Associação por meio desta inserção.Frente ao braille, o sistema é considerado fundamental para Tiago, principalmente no desenvolvimento da pessoa com deficiência durante a infância.
A Associação conta com aulas diárias do braille que são realizadas pelo apoio pedagógico de Amanda Francisco da Silva. O contato e amor por ensinar o sistema ocorreu por meio de sua licenciatura em geografia. Amanda era a responsável por produzir mapas táteis. Amanda destaca como ocorrem as aulas e revela o sentimento por meio da evolução dos alunos.
Ultrapassando limites e diagnósticos, Isadora Hidalgo de Souza, de 16 anos, é um exemplo de ressignificar a vida, para além das condições físicas. Nascida de forma prematura, a adaptação fez parte do percurso principalmente com o auxílio do braille.
Para a menina, o braille nunca deixou de estar presente, seja pelo desenvolvimento da escrita ou pela leitura.Isadora salienta ainda, a revolução proporcionada atualmente pelos novos recursos disponíveis através de softwares que auxiliam no aprendizado escolar. Apaixonada pelo seu time do coração, Isadora é criadora, produtora e apresentadora do Podcast, Recanto Tricolocor, criado em 2020 com a ajuda do tio. Pianista na infância, Isadora ainda divide este amor pelo Grêmio e o sonho de seguir a carreira de jornalista. Para a professora de braile Amanda, a empatia e o amor podem ressignificar os preconceitos, ainda enfrentados.
Podemos perceber que o sistema Braille se tornou uma comunicação essencial para pessoas com deficiência visual, seja para Isadoras ou para mais de 500 mil cegos em todo o Brasil. São indivíduos dotados de sonhos, coragem e uma imensa determinação para aprender e se integrar plenamente nesta jornada chamada vida. Diante do preconceito ainda existe, é crucial que ele seja superado e enfrentado em sua totalidade, para que as pessoas cegas ou com qualquer outra deficiência sejam reconhecidas e recebam oportunidades merecidas.
A inclusão de cegos e pessoas com deficiência seja no futebol, no jornalismo ou em qualquer outra área de atuação se torna fundamental, demonstrando todo o talento existente e quebrando paradigmas. Assim, podemos afirmar que a verdadeira cegueira está naqueles que são incapazes de enxergar o potencial do próximo!