A discalculia é um transtorno de aprendizagem que afeta a capacidade de raciocínio lógico-matemático e, embora, muitas vezes, seja confundida com dificuldades comuns de aprendizado, pode ser identificada e tratada desde os primeiros anos de vida, segundo a neuropsicopedagoga Flávia Rosati Lacerda.
De acordo com a especialista, os avanços nas pesquisas científicas e a maior compreensão sobre esses transtornos têm possibilitado diagnósticos mais precoces e intervenções adequadas. “A discalculia é uma dificuldade no reconhecimento e processamento de números, o que impacta diretamente o raciocínio matemático. Ela pode ser observada em crianças a partir dos quatro anos”, explica Flávia.
Entre as principais características da discalculia estão a dificuldade em reconhecer números, em contar e atribuir quantidades corretas aos numerais, e em realizar operações simples de adição ou subtração. “Muitas vezes as famílias nos trazem casos em que a criança já sabe contar até 20 ou 30, mas o que ela está fazendo é a recitação dos números. A verdadeira contagem envolve um nível mais complexo de habilidade cognitiva, onde a criança precisa associar a quantidade àquele número”, complementa a neuropsicopedagoga.
Dificuldades Cognitivas e Diagnóstico Precoce
O transtorno é frequentemente identificado quando as crianças começam a enfrentar dificuldades mais complexas no processo de aprendizagem matemática, como associar numerais a quantidades ou realizar operações básicas. Flávia destaca que, enquanto a discalculia afeta as funções cognitivas relacionadas aos números, a dislexia, por outro lado, compromete a codificação e decodificação das letras, impactando diretamente a leitura e a escrita.
Embora a discalculia seja mais rara que a dislexia, com cerca de 2,3% da população diagnosticada, o transtorno pode persistir ao longo da vida. A especialista explica que, uma vez identificado o transtorno, é importante que o paciente receba acompanhamento especializado desde a infância, continuando o tratamento durante a adolescência e até a vida adulta, dependendo da profissão escolhida.
A Importância da Intervenção Profissional
Flávia também alerta para a importância da identificação precoce da discalculia. Diferente da alfabetização, que segue um ritmo mais lento e pode se estender até o 3º ano do ensino fundamental, a discalculia pode ser diagnosticada mais rapidamente. A observação dos primeiros sinais pode ocorrer entre três e quatro anos, quando a criança começa a mostrar dificuldades na identificação e manipulação dos números.
“É importante que os pais e educadores fiquem atentos a sinais como a dificuldade em aprender a contar corretamente, associar numerais às quantidades, ou realizar operações simples. Quando esses sinais aparecem, é essencial buscar a orientação de profissionais especializados, como neuropsicopedagogos ou psicopedagogos, que possam realizar uma avaliação crítica”, explica.
Embora esses profissionais não emitam diagnósticos, eles são fundamentais para levantar hipóteses diagnósticas e encaminhar os pacientes para a avaliação médica com um neuropediatra ou psiquiatra infantil, que poderão confirmar o diagnóstico e orientar sobre o tratamento.
Tratamento e Acompanhamento
O tratamento da discalculia envolve intervenções pedagógicas e estratégias que visam melhorar a compreensão e o processamento dos números. Além disso, Flávia destaca que, embora o transtorno persista ao longo da vida, com o devido acompanhamento, as pessoas com discalculia podem desenvolver habilidades e aprender a lidar com as dificuldades, melhorando sua qualidade de vida e desempenho acadêmico e profissional.
Para famílias e educadores, o mais importante é entender que a discalculia não é uma simples dificuldade de aprendizado, mas um transtorno neurocognitivo que exige uma abordagem especializada. Com a intervenção precoce e o acompanhamento contínuo, é possível ajudar a criança a superar os desafios e alcançar seu potencial.
Com os avanços na neurociência e uma maior compreensão sobre os transtornos de aprendizagem, especialistas como Flávia Rosati Lacerda enfatizam a importância da detecção precoce e da intervenção especializada para garantir que crianças com discalculia possam receber o suporte necessário desde os primeiros sinais.