O luto é um processo profundamente individual e pode surgir em diferentes situações, dependendo da natureza da perda. De acordo com especialistas, ele se manifesta não apenas diante da morte de alguém querido, mas também em situações de rompimentos significativos, como a perda de um trabalho, de um relacionamento, ou até mesmo de um membro do corpo. Cada tipo de perda gera um luto específico, mas todos compartilham a necessidade de acolhimento e compreensão.
Existem diferentes categorias para o luto, como o normal, considerado uma resposta natural e saudável ao enfrentar perdas importantes. Também é possível viver o luto antecipatório, que ocorre quando uma pessoa começa a viver a dor da perda antes que ela aconteça, como em casos de doenças graves. Por outro lado, há o luto complicado, onde a pessoa permanece presa à dor, incapaz de retomar a rotina e seguir em frente.
Outras formas incluem o luto adiado, que surge quando o enlutado, por cuidar de questões burocráticas ou apoiar outros, adia seu próprio processo de vivência da perda, e o luto inibido, marcado pela supressão ou negação das emoções. Já o luto não reconhecido acontece quando a sociedade não valida a dor da perda, seja por tabus, estigmas ou pela ausência de rituais que permitam vivenciar o adeus.
Ao contrário do que se acreditava no passado, o luto não segue etapas lineares. Como explica a psicóloga Luana Dondé Tochetto Scopel, o processo de luto é único para cada indivíduo e, atualmente, é compreendido como um movimento dual: momentos em que nos permitimos vivenciar a dor e outros em que buscamos retomar a vida.
“Hoje em dia, a gente sabe que o luto não é mais vivido em etapas ou fases. Cada pessoa precisa viver dentro de sua autonomia o seu processo de luto. Ele é muito singular e subjetivo”, esclarece a psicóloga. Esse entendimento moderno nos ajuda a perceber que o luto não tem um prazo definido.
A psicóloga explica que términos de relacionamento também podem ser considerados uma forma de luto. “É claro, cada pessoa vai viver de uma forma individual. Então para algumas pessoas vai ser um pouco mais simples passar por esse processo adaptativo do término de relacionamento e para outras pessoas vai ser um processo muito doloroso”
Mariana Pedó, de 30 anos, compartilhou com a reportagem uma experiência intensa que viveu há cinco anos, quando foi morar nos Estados Unidos a trabalho. Lá, conheceu um companheiro com quem se relacionou por cerca de 11 meses. Desde o início, o casamento era um tema constante nas conversas do casal. Quando ela voltou ao Brasil, já com a decisão tomada de se casar com ele, tudo estava encaminhado: as famílias estavam de acordo, e ele viria ao Brasil para conhecê-la. No entanto, antes dessa visita, Mariana teve uma revelação pessoal dolorosa: percebeu que aquele não era o homem com quem deveria passar a vida.
Tomar a decisão de terminar o relacionamento foi uma das escolhas mais difíceis que ela já fez, pois, apesar de ter sido breve, a intensidade da relação gerou um profundo sofrimento. Ela passou por um luto interno, pela dor de abrir mão de algo que lhe fazia bem momentaneamente, e também pelo arrependimento das escolhas passadas. Pedó conta que era um misto de inconformidade e a difícil aceitação de que precisava abrir mão do que parecia certo naquele momento para buscar o que acreditava ser certo. Mariana reflete que o luto não foi só sobre o término de um namoro, mas sobre o peso das decisões erradas que tomou ao longo da vida, um processo de autoconhecimento doloroso.
No dia 29 de janeiro de 2016, Porto Alegre foi atingida por um fenômeno meteorológico conhecido como “downburst”, ou “explosão atmosférica” em português. Esse fenômeno se caracteriza por ventos verticais de alta intensidade que atuam de cima para baixo, com velocidades que se comparam com as de um furacão de classe um, que superam 117 km/h. Na capital gaúcha, os ventos alcançaram 120 km/h, resultando na queda de árvores, danos a residências e estabelecimentos comerciais, além de postes de luz tombados.
Aline Wieth, uma professora de 40 anos, estava em casa com o marido e a filha de 7 anos quando esse “pesadelo” começou. Ela lembra da sensação angustiante da casa tremendo, até que, de repente, o telhado foi completamente arrancado. Apenas dois cômodos da residência se salvaram. Recentemente adquirida e mobiliada com novos móveis, livros da faculdade e materiais de ensino, a casa representava um novo começo para Aline. Ela tentou salvar o que pôde, mas descreve a experiência como um “filme de terror” que só começou a se dissipar no dia seguinte, após uma noite sem dormir.
Quase 10 anos depois do ocorrido, Aline ainda revê ‘’flashes’’ daquela cena a cada chuva, mesmo sabendo que agora está em um lugar seguro. O impacto emocional daquele dia permanece presente na memória, revelando a profundidade do luto que se segue a uma tragédia inesperada.
O luto também é parte do movimento natural de vida. “A gente precisa passar por esse processo adaptativo. Vivo minha dor e vivo meu luto. E essa oscilação vai fazer com que aos poucos eu consiga me adaptar e viver um pouquinho menos a minha dor, ou seja, eu não fico mais voltada tanto para essa dor, para esse luto”, afirma Luana.