Bonecos hiper-realistas que se assemelham a recém-nascidos estão chamando atenção nas redes sociais e na mídia. Conhecidos como bebês reborn, esses itens impressionam pelo nível de detalhe e têm gerado debates sobre o tipo de vínculo emocional que algumas pessoas desenvolvem com eles.
Segundo a psicóloga Sabrina Rugeri, o apego a esses bonecos pode ter origens profundas, nem sempre negativas. “Em muitos casos, o bebê reborn representa uma forma de preencher perdas, lidar com frustrações afetivas ou até mesmo com a impossibilidade de ter filhos. Às vezes, é simplesmente um recurso para enfrentar a solidão”, explica.
O realismo dos bonecos, segundo a especialista, pode despertar reações emocionais intensas. Para algumas mulheres, por exemplo, o cuidado com o reborn se torna uma forma simbólica de relacionamento. No entanto, é necessário observar até que ponto esse apego é saudável.
“Quando existe uma negação da realidade — a pessoa trata o boneco como se fosse um bebê vivo —, ou quando há um isolamento social, prejuízos no trabalho, nas relações, aí a gente precisa prestar atenção. Isso pode ser um sintoma de um sofrimento emocional mais profundo”, alerta a psicóloga.
Apesar das críticas e julgamentos que muitas vezes cercam essa prática, Sabrina defende uma abordagem mais empática: “Ao invés de julgar, a gente pode se perguntar: o que essa pessoa está tentando comunicar com esse vínculo? O preconceito nasce da falta de compreensão. O importante é escutar com qualidade e acolher.”
Para entender esses laços simbólicos, a psicóloga também faz referência à teoria do apego, de John Bowlby. De acordo com essa teoria, vínculos afetivos inseguros na infância podem levar, na vida adulta, à busca por formas alternativas de afeto. “É uma tentativa de compensar o que faltou lá atrás”, afirma.
Mais do que um brinquedo, o bebê reborn pode representar uma ponte entre a dor e o afeto, entre a falta e o desejo. Para alguns, um alívio simbólico. Para outros, um pedido de socorro. Em ambos os casos, especialistas destacam a importância de olhar com atenção — e menos julgamento.