O seguro rural no Rio Grande do Sul tornou-se cada vez mais crucial para proteger produtores e o abastecimento nacional frente a eventos climáticos extremos. Entre 2024 e 2025, o Estado enfrentou perdas significativas nas principais culturas, como arroz e soja, agravadas por enchentes, secas prolongadas e outros fatores climáticos adversos, evidenciando a necessidade de políticas públicas robustas e de um mercado de seguros fortalecido.
O preço do risco e o papel do seguro
Para Roberto Santos, presidente do Conselho Diretor da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), o preço do seguro reflete diretamente o tamanho do risco envolvido. Em evento da CIC Caxias, ele destacou que o mercado de seguros no Brasil atende milhões de brasileiros: 20,4 milhões de veículos segurados, 11 milhões de residências e 6,25 milhões de hectares de área plantada protegida, além de milhões de beneficiários em planos de saúde e odontológicos. O setor projeta ampliar em 20% a cobertura da população, atingir 6,5% do PIB em indenizações e 10,1% do PIB em arrecadação até 2030.
Durante as enchentes que afetaram diversas regiões do Estado, os seguros foram fundamentais para minimizar os impactos financeiros e garantir que a produção chegasse aos supermercados. Santos enfatizou que, apesar do alto custo do seguro, ele é um investimento estratégico que protege a atividade produtiva e contribui para a estabilidade econômica.
Políticas públicas e bloqueio de recursos
No Congresso, o deputado federal Afonso Hamm (PP-RS) protocolou um requerimento convocando o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, para explicar o bloqueio de recursos do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR). O parlamentar criticou medidas do governo federal, classificadas como “paliativas e ineficazes”, e alertou para o impacto humano da crise: 28 produtores rurais gaúchos se suicidaram em 2025, refletindo o desespero diante de dívidas e falta de políticas estruturais.
Hamm também solicitou auditoria ao Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a execução dos recursos do crédito rural, e destacou a cobrança de juros excessivos por bancos, que agravam a situação dos agricultores. Segundo ele, a imagem transmitida pelo governo de que os problemas estavam resolvidos foi “uma ilusão”, prejudicando o agro e a sociedade.
Desafios do crédito e incentivos ao seguro agrícola
O secretário de Agricultura do RS, Giovani Feltes, ressaltou a necessidade de políticas públicas assertivas e a criação de um fundo estadual para reduzir os custos do seguro agrícola. Ele destacou que, apesar de perdas significativas, 80% da safra de arroz e 70% da soja já haviam sido colhidas, garantindo que o abastecimento nacional seria preservado.
Feltes defendeu ainda linhas de crédito federais com juros acessíveis (3% a 4%) e políticas para atrair novamente seguradoras, que se afastaram do mercado gaúcho devido a eventos climáticos extremos, como secas prolongadas e enchentes recorrentes.
O debate sobre importação de arroz
Em meio à crise, o governo federal tentou realizar um leilão internacional para importação de arroz, cancelado após denúncias de irregularidades. Para a Federarroz, o leilão era desnecessário: o RS é responsável por 70% da produção nacional, e 80% da safra já havia sido colhida antes das enchentes. Segundo Anderson Belloli, diretor executivo e jurídico da entidade, os R$ 7 bilhões previstos para importação poderiam ser investidos na recuperação do setor e no apoio aos pequenos produtores, os mais afetados pelos desastres climáticos.
Iniciativas estaduais: Programa Terra Forte
Na agricultura familiar, o governo estadual lançou o programa Terra Forte, concedendo até R$ 30 mil por família para reconstrução de propriedades atingidas por eventos extremos. O foco está na contenção da água da chuva, correção do solo, recuperação de nascentes e práticas conservacionistas.
Segundo Luciano Schwerz, presidente da Emater/RS, “Queremos transformar a forma como o agricultor convive com o clima. Estamos unindo técnica, assistência e recurso, mas, sobretudo fortalecendo redes de apoio no campo”. O programa já está sendo replicado em regiões da Serra e do Vale do Taquari, fortalecendo a solidariedade entre comunidades fragilizadas após os desastres.
Seguro rural como ferramenta estratégica
Os episódios recentes deixam claro que o seguro rural não é apenas um produto financeiro, mas uma ferramenta estratégica. Ele protege produtores, garante a estabilidade do abastecimento, oferece segurança econômica e social, e é um instrumento fundamental para políticas públicas efetivas. A combinação de subvenção governamental, linhas de crédito atrativas, seguros adequados e programas complementares como o Terra Forte é essencial para a sustentabilidade do agronegócio gaúcho e para a segurança alimentar do país.





