No sentido literal da palavra, Páscoa traz a expressão “passagem”. Para muitos, a data pode ser definida como renascimento. Afinal, é a ressurreição de Jesus Cristo que marca imponentemente este domingo, mas os significados são diversos — e existe espaço para isso. É hora de manter a esperança e a fé em algo que parece perdido, esquecido e sem solução. Entretanto, é preciso acreditar no florescimento de boas coisas. Por isso, hoje, falamos sobre o renascer da esperança.
A partir do entendimento de que a esperança é a confiança de que algo positivo pode acontecer, pode-se fazer a leitura de que o Domingo de Páscoa é a passagem para uma era de coisas boas. Na matéria especial desta semana, vamos falar sobre um nicho específico, em que a esperança e o significado da Páscoa estão no vocabulário todos os dias: a oncologia pediátrica.
Crianças que, tão jovens, enfrentam batalhas diárias pela vida são exemplos de garra e superação. Esse mesmo exemplo, com fortes componentes de amor inseridos, é abraçado por voluntários que vestem a camiseta da causa e apoiam as famílias. São histórias que se cruzam e ressignificam trajetórias.
Rocco Donadio é diretor executivo da Associação de Amparo à Criança e ao Adolescente com Câncer da Serra Gaúcha — a Domus, como é amplamente conhecida. A instituição acolhe crianças e adolescentes que vêm para Caxias do Sul receber tratamento contra o câncer e que não têm como ir e vir diariamente de suas residências. O encaminhamento para hospedagem na Domus é realizado pela Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON), do Hospital Geral. Esse serviço também é oferecido a pacientes em tratamento em outros hospitais da cidade, desde que encaminhados formalmente à associação.
No dia 11 de maio, a Domus celebra 16 anos de existência, e Donadio foi um dos fundadores que abraçaram a causa e seguem, até hoje, atendendo a uma necessidade da comunidade da Serra Gaúcha.
Ele relembra que, inicialmente, a preocupação estava na hospedagem, alimentação e organização das famílias atendidas. Entretanto, aos poucos, foi possível observar que a demanda era muito maior. Afinal, carinho, amor e atenção precisavam ser direcionados às crianças e adolescentes — mas também aos pais, que compartilham a dor dos pequenos.
Para isso, foi necessária a contratação de mais profissionais, para ampliar as formas como as famílias seriam atendidas, possibilitando, inclusive, que aquelas de fora do município recebessem atenção especial até mesmo dentro dos hospitais.
As voltas por cima da Domus, para ser e fazer diferente, não pararam por aí. Em busca de cada vez mais reconhecimento, recursos e solidariedade, uma ação mundialmente conhecida surgiu nessa história em 2013. O Instituto Ronald McDonald aceitou a Domus como parceira dentro da campanha McDia Feliz — quando, em um dia específico do ano, toda a renda obtida com a venda de um determinado lanche da rede é revertida para instituições que atuam com crianças diagnosticadas com câncer.
Segundo Rocco Donadio, a parceria trouxe grandes oportunidades para a instituição. A partir da cooperação, foi possível ampliar a divulgação da iniciativa e dos sinais que o câncer pode dar em uma criança.
Não é porque não pode ser evitado que o câncer infantojuvenil não possa ter diagnóstico precoce. Quanto antes for descoberto, mais cedo pode ser tratado — e curado.
É importante que cada sinal seja levado a sério e considerado, para que estejamos cada vez mais próximos da cura. Rocco compartilha uma experiência pessoal, vivida dentro da própria família, com a irmã que faleceu vítima do câncer — um sinal que serve de alerta para todos.
No tema que abordamos até agora, podemos falar de atenção, cuidado, dedicação, entrega, esperança e compaixão. Todas são ideias que vão ao encontro do espírito pascal — de acreditar e ter fé no impossível ou, melhor dizendo, no que parece impossível. É sobre manter acesa a chama que aquece a alma. É sobre saber que foi feito o melhor que estava ao alcance.
A abordagem está relacionada ao câncer infantil, mas poderíamos estar falando de qualquer outro tópico que venha a ser sensível para alguém. Afinal, quando se desconhece um medicamento que resolva a questão, mais do que nunca, é momento de oração.
Rocco Donadio pontuou, durante nossa conversa, que, na filosofia da Domus, é inadmissível perder uma vida. Porém, o humano não tem tanto poder em mãos — e cabe à junção da força de Deus e da medicina. Com esse cenário, entra em ação uma palavra: esperança.
Que a Páscoa tenha o poder de fazer renascer a força e a esperança no coração de todos. Os dias podem parecer inacabáveis e a luz no fim do túnel pode não estar visível agora, aí de onde você está — mas não é por isso que ela não existe. Pode ser que ela brilhe mais do que nunca quando o destino se aproximar. O futuro pode estar reservando algo muito maior do que você está pedindo hoje. Tudo tem um propósito.
Acredite sempre no doce renascer da esperança.
