O assunto foi tema da entrevista do dia do Jornal da Caxias. A razão se deve à estiagem prolongada na região, uma vez que não chove desde meados de dezembro de 2024, resultando numa quebra de safra significativa, em especial, na região central do Estado, com referência para os municípios de Júlio de Castilhos e Cacequi.
Após as fortes enchentes de maio de 2024, que causaram danos significativos nas lavouras, muitos produtores de soja do Rio Grande do Sul enfrentam, pela quarta vez consecutiva, um ano de dificuldades. Em fevereiro de 2025, muitos estão se antecipando à colheita, na esperança de que a chuva retorne e permita alguma recuperação das perdas. Para os que realizaram o plantio mais tarde, ainda há uma chance, caso as precipitações se concretizem nas próximas semanas. Contudo, a estiagem prolongada, desde dezembro de 2024, tem causado uma quebra de safra significativa.
O coordenador da Associação dos Produtores e Empresários Rurais (Aper) e integrante do Movimento SOS Agro, Lucas Scheffer compartilhou, durante entrevista para a Rádio Caxias, a difícil realidade enfrentada pelos agricultores de soja da região central do Estado. Segundo o entrevistado, a situação é muito preocupante, principalmente, pela inversão de prioridade por parte do governo do Estado, que fala em reforço na irrigação quando, na realidade, a necessidade mais iminente é a reorganização das dívidas cunhadas pelos produtores de soja. Scheffer garantiu que cerca de 35% a 40% dos produtores gaúchos estão com dívidas de até 100 sacos de soja, além dos custos da lavoura.
Ainda segundo ele, que reside na cidade gaúcha de Júlio de Castilhos, a perda de fertilidade do solo é outro problema grave, pois aproximadamente três milhões de hectares de lavouras perderam sua fertilidade devido ao alto volume de chuva durante as cheias de 2024, afetando a capacidade de produção para este ano. Além disso, a falta de infraestrutura para armazenar água e o alto custo de implantação de sistemas de irrigação, como o pivô, são obstáculos que tornam a solução mais difícil para os produtores. Scheffer também mencionou que, embora o mecanismo seja uma ferramenta útil para períodos de estiagem curta, ele não é suficiente para enfrentar a seca prolongada que assola o estado.
Em termos de produtividade, as expectativas são desanimadoras. Alguns produtores, como Scheffer, que plantaram mais tarde e ainda têm esperanças de uma recuperação das colheitas, estimam uma perda de 40% a 50% na produção, especialmente e ainda nas região sul e na zona das Missões. A média de produtividade gira em torno de 18 a 20 sacos por hectare, uma queda substancial se comparado ao esperado. Para o produtor que colhe 20 sacos, o prejuízo é de aproximadamente R$ 2.500 por hectare, somando milhões de reais em perdas.
O impacto da agricultura na economia do Estado, que é um dos maiores produtores de soja do Brasil, também reflete na realidade de cada produtor. Scheffer destacou que, embora o agronegócio seja visto de fora como um setor de grandes lucros, a realidade é bem diferente. Em meio a esse cenário desafiador, Scheffer ressaltou a importância de desmistificar algumas ideias preconcebidas sobre a agricultura, como a noção de que o Brasil está desabastecido por conta das exportações.
Conforme Scheffer, para os produtores da região, a principal esperança agora é a chuva. Caso a previsão se confirme e as precipitações ocorram de forma mais constante até o final de fevereiro, será possível recuperar parte das perdas e garantir a continuidade do ciclo produtivo. Caso contrário, o prejuízo será irreversível para muitos.