A Rádio Caxias entrevistou nesta quinta-feira (12), durante o Jornal da Caxias com o médico e PhD em geriatria, Dr. Emilio Moriguchi, pesquisador com referência mundial na área geriátrica. Na oportunidade, o também pesquisador chamou atenção do tema “envelhecimento no Brasil” e destacou alguns apontamentos que devem ser urgentes no país. Salientou que para o envelhecimento saudável é necessário o acompanhamento de uma boa medicina preventiva versus curativa, especialmente num país que envelhece rapidamente, como o Brasil. Além disso, a necessidade de políticas públicas adequadas para garantir um envelhecimento mais “digno” à população. O ponto de partida da conversa foi o dado incontestável: o Brasil está envelhecendo. Quem confirma isso, é o dado do IBGE de 2022, constatando que a população idosa no país está crescendo, e a passos largos. Mas o país está preparado acolher aos idosos no futuro?
Segundo Moriguchi — que palestrou nesta semana para cerca de mil idosos no 4º Encontro Nacional de Pessoas Idosas do Sesc, em Bento Gonçalves — “o Brasil é um dos países que mais envelhece no mundo, proporcionalmente, e está despreparado para acolher os idosos”. Conforme o geriatra, “muitos ainda acreditam que o Brasil seja um país de jovens. Contudo, não somos mais.” Em sua fala, o médico trouxe à tona um cenário preocupante: a superlotação das emergências hospitalares. Citou o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, onde mais de 60% dos pacientes internados com infecções respiratórias são idosos — muitos deles, não vacinados. Conforme o geriatra, “se tivéssemos criado uma cultura de vacinação e prevenção, esse quadro poderia ser evitado”. Na opinião do PHD, “falta educação em saúde e uma política pública eficiente para lidar com o envelhecimento populacional”.
Dados recentes do Rio Grande do Sul escancaram o problema: conforme o médico, dados de 2024, apontam que, oito em cada dez idosos, acima de 60 anos, precisaram de atendimento em unidades básicas, unidades de Pronto Atendimento ou emergências. Ele recordou na entrevista, que no Japão, país referência em longevidade, esse número cai pela metade, mostrando que no Brasil está se envelhecendo mal. Na visão do pesquisador esse preparo para envelhecer bem, precisaria começar cedo. Segundo Moriguchi, entre os 20 e 29 anos, o corpo já mostra sinais que podem indicar problemas futuros. Recordou que a prevenção é eficaz até os 45 anos. Depois disso, conforme o pesquisador, muitas doenças se tornam crônicas. Segundo o PHD, no Japão, todo cidadão que atinge 20 anos precisa, obrigatoriamente, passar por uma avaliação de saúde geral para adquirir os direitos da vida adulta. Sendo este, um investimento do Estado e que se reflete na saúde da população idosa. Para Moriguchi, “lá, as pessoas vivem mais e melhor”.
Conforme o médico, o retrato que chega aos ambulatórios de geriatria é desolador. Idosos que passaram meses esperando por atendimento, que já sofrem de doenças crônicas e que, muitas vezes, verbalizam que ao final da vida, o sofrimento de envelhecer é considerado um “castigo”. Segundo Moriguchi, essa é a frase que mais se escuta nos corredores médicos. Além dos cuidados médicos, ele ainda destaca a importância dos laços afetivos, o apoio familiar, as boas amizades e o sentimento de utilidade. O médico explica que estudos comprovam que a felicidade e a longevidade são fenômenos coletivos, não individuais. Para ele, as boas companhias ajudam a manter hábitos saudáveis e isso tem impacto direto na saúde das pessoas.
Moriguchi adverte que o envelhecimento também traz desafios à saúde mental, como a depressão e os quadros de demência, especialmente o Alzheimer. Por isso, na visão do PHD em geriatria, a prevenção e a identificação precoce são fundamentais. O profissional também adianta que a academia tem investido em pesquisas e cooperações internacionais para entender todos os processos. Moriguchi finalizou a entrevista com um apelo: “Conhecimento sem divulgação não transforma a realidade. Por isso, o trabalho da imprensa, é tão importante quanto o da medicina”. Ele acredita que é necessário formar uma cultura de cuidado e prevenção, para que todos possam não só viver mais, mas viver bem e felizes até o fim da vida.
Confira aqui a entrevista completa.