As doenças cardiovasculares continuam sendo a principal causa de morte no Brasil, e os fatores que mais contribuem para esse cenário são amplamente conhecidos, porém negligenciados. Em entrevista ao Jornal da Caxias, o cardiologista Dr. Francisco Michelin reforçou os quatro principais vilões do coração: tabagismo, hipertensão arterial, diabetes e colesterol elevado.
“Esses fatores são responsáveis pela maior parte dos casos de infarto agudo do miocárdio, que podem evoluir para insuficiência cardíaca e morte súbita. E o mais grave: todos são modificáveis”, alertou o especialista.
Segundo o médico, cerca de 80% das mortes súbitas ocorrem entre fumantes, enquanto a hipertensão e o diabetes seguem silenciosos até causarem danos irreversíveis ao coração. O colesterol alto, por sua vez, leva à formação de placas nas artérias coronárias, que quando rompem, provocam obstruções fatais.
Infartos em jovens: uma realidade crescente
O número de jovens vítimas de infarto tem aumentado, o que levanta preocupações. Segundo o cardiologista, embora a maioria dos casos em adultos seja causada por obstrução das artérias (aterosclerose), nos jovens, outras causas são mais comuns, como uso de drogas (cocaína, por exemplo), arritmias cardíacas, malformações congênitas e doenças genéticas.
“Já atendi pacientes com menos de 25 anos que infartaram de forma fulminante, sem histórico familiar ou fatores de risco aparentes. Em muitos casos, a causa é genética ou relacionada a arritmias silenciosas”, explicou.
Sedentarismo, obesidade e estresse também ameaçam o coração
Além dos fatores clássicos, Michelin destacou o impacto do sedentarismo e da obesidade, que costumam caminhar juntos. A recomendação é a prática de atividade física cinco vezes por semana, por pelo menos 30 minutos.
Outro ponto importante citado foi o estresse crônico e a ansiedade, que passaram a ser reconhecidos como fatores de risco reais para doenças cardíacas. “Existe o estresse natural do dia a dia, mas o excesso, aliado à ansiedade, adoece o corpo e afeta diretamente o coração. Não é mito, é fato”, reforçou.
Prevenção começa cedo: check-up a partir dos 35 anos
Dr. Michelin defende que o acompanhamento cardiológico deve iniciar aos 35 anos para homens e aos 40 para mulheres, mesmo sem sintomas. Ele reforça a importância de exames simples como o eletrocardiograma, muitas vezes subestimado, mas essencial para detectar arritmias e identificar infartos precocemente.
“O eletrocardiograma continua sendo o exame mais importante da cardiologia. É rápido, barato e salva vidas”, afirmou.
Palpitação é sinal de alerta
Questionado sobre como identificar sinais de arritmia, o cardiologista foi direto: “Se você começa a sentir seu coração bater forte ou irregular, procure um médico. A maioria das pessoas nem percebe os batimentos cardíacos no dia a dia. Quando percebe, algo pode estar errado.”
As arritmias, explicou, podem ser de diferentes tipos — desde taquicardias (batimentos acelerados), bradicardias (batimentos lentos) até extrassístoles, quando o coração bate fora do ritmo. O diagnóstico é feito por exames como eletrocardiograma e holter de 24 horas.
Humor e alerta
A entrevista foi encerrada com leveza e bom humor, quando o radialista, Luis Magno, perguntou se torcer para o Juventude, time local em má fase, poderia ser fator de risco cardíaco. Dr. Michelin respondeu com ironia:
“A essa altura, é mais um fator de estresse. Aproveitamento de 6% pode causar taquicardia em qualquer torcedor.”
Resumo dos principais fatores de risco cardíaco, segundo Dr. Michelin:
- Fatores modificáveis: tabagismo, hipertensão, diabetes, colesterol alto, sedentarismo, obesidade, estresse e ansiedade.
- Fatores não modificáveis: idade, sexo e histórico familiar.
- Sinais de alerta: palpitações, cansaço fora do normal, desmaios, dor no peito.
- Exames essenciais: eletrocardiograma, exames laboratoriais, avaliação clínica periódica.
Prevenir ainda é o melhor remédio. A orientação do especialista é clara: mudança de hábitos salva vidas. O coração agradece.
Confira aqui a entrevista completa.