O Grupo Carrefour deu um passo atrás, na última terça-feira (26), reconhecendo a “grande qualidade” da carne produzida no Brasil, após declarações de seu CEO, Alexandre Bompard, que havia anunciado a interrupção das compras de carne de países do Mercosul. A fala de Bompard, feita em 20 de novembro, causou um mal-estar generalizado no Brasil e gerou boicotes de grandes frigoríficos brasileiros à rede de supermercados.
Em uma carta divulgada pelo Ministério da Agricultura, Bompard pediu desculpas formalmente, reconhecendo a situação. A manifestação de retratação foi bem recebida pelo ministro Carlos Fávaro, que expressou o desejo de que a crise fosse resolvida e a normalidade restabelecida nas relações comerciais. A polêmica teve origem em um movimento de produtores rurais franceses que temem a perda de competitividade diante do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, o que culminou na postura do CEO do Carrefour.
Para o ex-ministro da Agricultura e presidente do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABP), Francisco Turra, a reação do Carrefour é um reflexo de um medo profundo da competitividade do Brasil, especialmente no setor agropecuário. Turra afirma que a França tem receio da produção agrícola brasileira, que se mostra mais competitiva, enquanto a agricultura francesa é altamente subsidiada. “Tudo que é ruim para a França é muito bom para o Brasil“, destaca o ex-ministro, mencionando a superioridade do Brasil em termos de custo de produção, devido a fatores como a ausência de subsídios e a grande competitividade no mercado internacional.
Turra também criticou a postura francesa em relação à qualidade da carne brasileira, destacando o rigor do Brasil com a sanidade de seus produtos. “Nós somos muito mais competentes em sanidade animal do que a França”, afirmou, ressaltando o fato de que o Brasil é um dos maiores exportadores de carne do mundo e segue rígidos padrões sanitários, com auditorias constantes, sem apresentar problemas como os que afetam outros países.
O ex-ministro ainda lembrou que o Brasil tem sido um modelo de sustentabilidade, com práticas agrícolas que priorizam a preservação do meio ambiente, em contraste com a realidade da agricultura europeia. “O Brasil tem mostrado ao mundo que é possível produzir de forma sustentável e com qualidade, e isso tem sido reconhecido por diversos mercados ao redor do globo”, afirmou Turra, lembrando que o Brasil está presente em 170 mercados e que, em termos de exportação, a Ásia e o Oriente Médio são destinos muito mais relevantes do que a Europa para a carne brasileira.
A crise envolvendo o Carrefour, porém, não preocupa Turra. Para ele, a reação da cadeia produtiva brasileira é um sinal de força e união. “O Brasil soube reagir com firmeza e unidade. A nossa carne tem mercado no mundo inteiro, e a Europa, com sua agricultura subsidiada, tem muito a aprender com a nossa competitividade”, conclui o ex-ministro.