Nostologia é um termo que descreve uma sensação de saudade idealizada por momentos vividos no passado, associada a um desejo sentimental de retorno, impulsionado por lembranças de momentos felizes com pessoas, lugares ou itens. Você pode não ter notado quando acessou o Orkut pela última vez, quando sua mãe fez sua última festinha de aniversário, quando deixou de lado seu brinquedo preferido, quando brincou pela última vez na rua, ou combinou de brincar no outro dia e não voltou mais. O dia em que aposentou seu Super Nintendo, não colocou mais nenhum CD no Discman, a Lan House da esquina fechou e virou uma loja vazia, quando alugou seu último filme na locadora ou mandou o último SMS.
Seu radinho parou de funcionar e agora você chama pela Alexa. As coisas mudaram, o tempo passou. Mas esse sentimento de nostologia e o desejo de retorno ao que faz seu coração pulsar permanecem vivos. E os itens, por mais que pareçam ultrapassados por uma nova geração, fazem parte da história e formaram pessoas.
Olhar para um objeto de decoração que remete à infância ou até mesmo à casa dos avós recorda muito mais do que um item exposto; é sentir a lembrança do que já foi e ainda soa na memória. É sentir a cada toque como se ali existisse um pedaço da nossa formação, como pessoas e sociedade. Um passado distante, mas ao mesmo tempo tão próximo.
Atualmente, Caxias do Sul conta com o maior antiquário do Estado, com mais de 60 mil peças expostas e prontas para fazer os visitantes recordarem essas histórias. Fundado em 2002, o espaço possui os mais variados itens, entre eles a mais nova coleção de impressoras do século XX. Filho de antiquário há mais de 50 anos, Jonathan Franco vive a paixão pelas antiguidades e histórias, e conta como essas peças fazem parte da rotina. As feiras surgiram, e o acervo cresce cada vez mais.
Ao circular pelo espaço, é possível notar coisas que talvez eu ou você, que me escuta, não tenha conhecimento ou percepção de existência. Entre os itens mais diversificados, lá está ela, posicionada no canto, o item de maior valor e tempo, de 1900. Franco evidencia o que é mais antigo.
O garimpo é fundamental para descobrir os itens. O processo minucioso e o dilema utilizado é: não procure, deixe ser encontrado. Por isso, garimpar é sobre se deixar surpreender por algo que você nem imaginou que existia, descobrir a beleza da peça, se apaixonar pela história e encontrar um novo lugar e uso para ela. É assim que Jonathan descreve o processo das peças que localiza e que considera um vício em novas aquisições.
Colecionar esses itens que carregam histórias pode ser considerado um hobby, e a movimentação nas feiras também se expande para aqueles que gostam justamente de recordar, mas os desafios também foram vivenciados.
Entre 60 mil peças, algumas se tornam especiais para quem cuida de perto dessas preciosidades e se tornam uma herança passada de geração em geração. A Rádio Caxias, em seus 78 anos de história, também faz parte deste espaço. A descoberta durante a entrevista trouxe uma nova perspectiva para esta matéria.
Um registro dos primórdios desta emissora, quando ainda funcionava juntamente com o Recreio Guarany, entre os anos de 1946 e 1949. O gongo manual era utilizado para anunciar a hora exata nos estúdios da emissora. O locutor batia as campânulas com o martelo e, em seguida, anunciava o slogan do patrocínio e a hora. O gongo foi garimpado em uma residência e logo depois ocorreu um fato curioso destacado por Jonathan.
Com 600 rádios e 400 relógios, a expansão é uma projeção para o antiquário Jonathan, que prevê a criação de um museu do rádio e do relógio em Caxias do Sul. À medida que percorremos as páginas da história através desses itens e memórias, percebemos que cada peça é um testemunho do tempo e da experiência humana. O valor não está apenas na antiguidade ou na raridade, mas na capacidade desses objetos de nos conectar com o passado, de nos fazer refletir sobre como vivemos e como o tempo nos molda.
Ao explorar o acervo de Jonathan Franco, somos convidados a olhar para trás e a valorizar o que foi, enquanto também nos inspiramos para criar novas memórias. Cada peça resgata um fragmento de nossa identidade e nos lembra que, no entrelaçar de histórias antigas e novas, encontramos o verdadeiro sentido da nossa própria jornada.