Em meio às paredes de pedra, rejuntadas com barro, e às aberturas de pinho falquejado, O Museu Ambiência Casa de Pedra, carrega cinco décadas de história, celebrados no dia 15 de fevereiro. O espaço, também conhecido como Casa de Pedra, em Caxias do Sul, se destaca como um verdadeiro tesouro cultural.
Construída por Giusepp Lucchese, foi adquirida e pertencente a Jacob Brunetta entre 1913 e 1946, quando a propriedade passou a ser de David Tomazzoni. Originalmente de madeira, a edificação foi adaptada ao longo do tempo para abrigar diversas atividades, como abatedouro de suínos, armazém e até uma ferraria. Com a expansão urbana, especialmente dos bairros São José e Santa Catarina, o local passou a ser ameaçado.
Em 1974, no contexto das comemorações do centenário da imigração italiana no Rio Grande do Sul, o município de Caxias do Sul negociou com a família Tomazzoni, se tornou proprietário da área e instalou o Museu Casa de Pedra. O espaço é considerado uma decorrência direta da revitalização que ocorreu com o Museu Municipal de Caxias do Sul, sendo inaugurado oficialmente em 15 de fevereiro de 1975.
Naquele contexto, Maria Clary Frigeri Horn, professora vinculada ao campo da museologia, da história e do turismo, percebeu a possibilidade de desenvolver ações relacionadas ao Museu Municipal. O objetivo era reconfigurar o lugar com uma perspectiva ligada à italianidade. Ela também soube que, no bairro Santa Catarina, havia uma casa de pedra, uma das últimas da zona central.
Maria conversou com o prefeito da época, e juntos articularam a proposta de inaugurar o Museu Municipal no local onde ele está hoje, e ao mesmo tempo, transformar aquela “ruína”, como era chamada naquela época, em um dos espaços simbólicos da cidade. No olhar de Maria, esse local teria o potencial de se tornar um dos principais pontos turísticos da cidade, o que, de fato, aconteceu. Hoje, ele é o museu público mais visitado e um dos pontos turísticos mais procurados por visitantes que transitam por Caxias do Sul. Para o diretor da Casa de Pedra, Itamar Cumarú, o local abriga muito mais que objetos; é o cenário que carrega tradições e costumes que não foram perdidos ao longo do tempo.


Na área externa, um parreiral evoca a principal cultura agrícola dos imigrantes italianos e dos descendentes, acompanhado de outras árvores frutíferas e ornamentais. No interior, o mobiliário e os adornos recriam o ambiente da época. Na cozinha, o rústico fogão incrustado na pedra, rodeado por grandes panelas e utensílios típicos usados para preparar a polenta, a massa e o pão. Na sala, uma mesa espaçosa, adequada para uma família numerosa, é acompanhada de quadros e imagens de santos católicos de devoção, além de objetos do artesanato feminino. No andar superior, o quarto é simples, com poucos móveis essenciais, refletindo a história de um povo que tem uma contribuição importante para a sociedade caxiense.
Cumarú destaca o envolvimento significativo da comunidade na reconfiguração da Casa de Pedra nos anos 70, quando passou a ser preservada com a participação ativa das famílias que tinham vínculo com o local. O diretor salienta que, durante anos, algumas pessoas achavam que, por ser uma casa modesta, a visitação era muito rápida. No entanto, com o tempo, uma nova leitura do espaço se consolidou.
Ao completar cinco décadas este ano, o Museu celebra uma trajetória de sucesso, que não será marcada apenas por celebrações, mas por reformas significativas no espaço. O diretor explica que não é qualquer tipo de obra ou intervenção que se aplica a um patrimônio como esse. É necessário seguir critérios rigorosos, e a manutenção é fundamental, não apenas para o local, mas para todos os prédios históricos e tombados, incluindo aqueles que, embora não sejam tombados, estão inventariados.
Nesse contexto, o Museu foi afetado pela intensidade das chuvas de maio passado. A Casa de Pedra deve receber uma limpeza e reforma geral do telhado, a troca de algumas algerosas e intervenções nas madeiras, substituindo aquelas que estão apodrecidas. Também é necessário reparar a parte externa, onde se encontra o forno, uma réplica feita com tijolos térmicos nos anos 2000. O pequeno telhado dessa área sofreu danos devido ao peso das telhas de barro e à intensidade das chuvas, causando o desabamento de uma lateral e fazendo com que o telhado pendesse.
Conforme a presidente do bairro Santa Catarina e servidora referência do espaço, Beatriz Regina Perin, de 56 anos, o local é preservado com um cuidado minucioso que ocorre diariamente. Ela compartilha que iniciativas são planejadas para que o visitante tenha uma experiência completa. Para Beatriz, essa experiência se renova a cada nova explicação sobre as peças que compõe o espaço.


A interação da comunidade com o local é constante, e momentos como esse são preservados. Encontros mensais ocorrem com rodas de música, chimarrão e o partilhar do conhecimento e da cultura. Beatriz e Itamar destacam os sentimentos nesses 50 anos, uma data vista com emoção e orgulho por fazerem parte dessa história.
O Museu Ambiência Casa de Pedra, em seus 50 anos, é mais do que um espaço histórico: é um guardião da memória. Ele continua a inspirar e educar, de modo que visitar o museu não é apenas uma viagem ao passado, mas também um ato de apoio à preservação da identidade local e cultural.
