A leitura é essencial para o aprendizado. É através dela que formamos nosso vocabulário, obtemos conhecimento e aprendemos a interpretar as coisas à nossa volta. O hábito de ler deve ser incentivado desde a infância, não apenas para facilitar o processo de escrita ou interpretação, mas principalmente porque a leitura é fundamental para a comunicação do ser humano. Ao longo do tempo ela foi passando por transformações, se adaptando a realidades distintas, novos meios e superando barreiras.
Um dos mais tradicionais meios de leitura é o livro. Ele também passou por modificações com o passar dos anos, e apesar de antigo, nunca saiu de moda. Com o surgimento e desenvolvimento da internet, novas formas de leitura foram surgindo. Formas que não respeitam as limitações do tempo ou demarcações de uma página de papel. A internet permite maior circulação de textos e informações, é mais veloz e interativa. A professora Flávia Brocchetto Ramos, graduada em Letras e com doutorado e mestrado na área de Teoria da Literatura pela UCS, destaca a praticidade como ponto forte do livro digital.
A facilidade de acesso e a instantaneidade levaram ao rápido crescimento do livro digital, e é claro que isso trouxe consequências aos livros físicos e aos estabelecimentos que dependem deles. Guilherme Martinato, gestor da livraria Do Arco da Velha, que está a quase duas décadas no cenário caxiense, comenta sobre os impactos no mercado do livro e como as livrarias estão se adaptando a essa nova realidade.
Durante a pandemia, o digital ganhou ainda mais espaço nos lares e nas mãos dos leitores. Dos livros para as telas, muita coisa mudou. Muitos leitores tiveram que recorrer aos e-books nos tempos em que não era possível ir a uma biblioteca ou livraria. As tendências de mercado mudaram, as livrarias também tiveram que se aventurar no mundo online, se adaptar a uma nova realidade, que não durou apenas 1 ou 2 anos, mas se tornou o novo normal. Infelizmente nem todas as livrarias passaram por esse período de maneira exitosa. Algumas abriram as suas portas para o meio digital, abraçando a nova realidade, enquanto outras, fecharam as portas. É preciso se atualizar, estar atento ao mercado, mas sem perder a essência, como coloca Guilherme.
Nos dias atuais, onde é possível fazer basicamente qualquer coisa pela tela de um celular, tudo ficou mais fácil. A falta de desafios, de complicações para se atingir o objetivo desejado também tem seus malefícios. Causa a perda do sentimento de instigação ou de inconformismo com o que é apresentado. Nas novas gerações, muitas vezes o primeiro contato com uma narrativa não é através do livro físico, e nem mesmo pelo digital. É por uma série, um filme, por uma postagem de uma página de instagram ou um conto narrado de uma versão em podcast, enfim, é por um produto derivado do livro e não pelo livro propriamente dito.
Os problemas da exposição excessiva às telas vão muito além dos danos à visão, podendo causar até mesmo transtornos psicológicos. É a ânsia por ter tudo ao alcance o tempo todo. Mas nem tudo está perdido, longe disso. O mercado editorial já percebeu essa demanda, assim como a sociedade em geral. É cada vez maior o número de obras voltadas para o público infantil, e a procura destes pela experiência que somente os livros físicos proporcionam: o toque, o cheiro e a imersão, que apenas uma virada de página ou uma figura com textura distinta trazem ao leitor.
Muitos teóricos encaram com desconfiança a abordagem dos livros digitais durante a infância. Estes ainda não são capazes de substituir as relações pedagógicas e tudo o que decorre das experiências construídas na vida escolar pelos livros tradicionais. De todo modo, a leitura sempre foi pensada como atividade norteadora do aprendizado, dentro e fora das escolas, por isso a urgência de voltarmos nossa atenção para ela.
Mas serão os livros digitais os carrascos dos seus semelhantes de papel? Ou o mundo globalizado tem espaço para todos? Não existe uma resposta certa para estas indagações, mas a professora Flávia nos provoca uma interessante reflexão.
A informação é a mesma, no entanto, as experiências são diferentes. Há espaço para todos os meios, é uma questão de se adaptar e saber tirar o melhor de cada um. Enfim, a mensagem que fica é: LEIA! Não importa como ou onde.