Conforme dados divulgados pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o endividamento das famílias brasileiras apresentou uma leve queda em janeiro, com a proporção de famílias com contas a vencer caindo de 76,7% em dezembro para 76,1%. Esse é o segundo recuo consecutivo na taxa de endividamento, marcando uma redução de 2 pontos percentuais em relação ao mesmo mês de 2024, quando 78,1% das famílias estavam endividadas.
Segundo a economista Maria Carolina Gullo, janeiro é tradicionalmente um mês desafiador para as finanças das famílias, marcado pela combinação de dívidas contraídas nas festas de fim de ano e pelo vencimento de impostos como o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) e taxas vinculadas a conselhos de classe, além das despesas com matrículas escolares e material didático para quem tem filhos. Portanto, para a economista a redução no endividamento pode ser vista de duas formas, refletindo a complexidade do comportamento financeiro das famílias nesse período.
Por um lado, a queda do endividamento pode indicar que muitas famílias atingiram um nível tão elevado de comprometimento do orçamento que não têm mais capacidade de contrair novas dívidas. Nesse caso, o alívio registrado não seria, necessariamente, um reflexo de uma melhora na saúde financeira, mas sim uma situação em que o orçamento já está totalmente comprometido, impossibilitando novas compras ou financiamentos. Gullo destaca que, em muitos casos, a redução do endividamento é uma consequência do “impossível ato de contrair novas dívidas”.
A economista aponta que o recuo no endividamento pode ser positivo, com algumas famílias conseguindo honrar compromissos e adotar um planejamento financeiro mais eficaz. Esse comportamento cauteloso, focado no pagamento à vista e no ajuste das finanças, pode indicar uma tentativa de retomar o controle do orçamento e evitar inadimplência. Assim, a queda no endividamento em janeiro deve ser vista com cautela, podendo refletir tanto dificuldades financeiras quanto mudanças no comportamento de consumo, em um cenário de pressão, mas também de possível renovação de hábitos sustentáveis.