Apesar do Rio Grande do Sul ser referência estadual quanto o assunto é a doação de órgãos e de tecidos, o Estado ainda enfrenta problemas para vencer a resistência das famílias quanto ao assunto. Elas que são responsáveis por decidir, na prática, quem pode ou não doar, ainda que o paciente tenha esboçado o desejo em vida. Quem explica é o médico e coordenador na UTI do Hospital-Geral, e membro da Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e de Tecidos para Transplantes, Rafael Lessa Costa.
O médio esclarece que o Brasil ocupa um lugar de destaque no cenário internacional, em se tratando de doação de órgãos e de tecidos, sendo referência para outros países. E que Caxias do Sul já foi um dos maiores receptores de órgãos e tecidos do Estado, por conta da atuação vanguarda do Hospital Pompéia. Contudo, Lessa explica que 1/3 dos familiares de potenciais doares se mostra contrário à ação, por desconhecer à vontade do ente querido. Segundo ele, até por isso, são lançadas de forma sistemática campanhas de conscientização sobre o tema, a exemplo de uma realizada pelo Superior Tribunal de Justiça e que estimula que esse desejo seja registrado em cartório.
Ainda para vencer essa resistência das famílias, ainda foi criado, pelo Poder Judiciário gaúcho, o projeto “Doar é Legal”, em 2009. A iniciativa busca a conscientização sobre a importância da doação de órgãos e a diminuição da lista de receptores à espera de uma doação. Uma das principais ações do projeto é a emissão de uma certidão (sem validade jurídica), que atesta a vontade de se tornar doador de órgãos. O documento serve para que a manifestação de vontade da pessoa fique clara e registrada, deixando os familiares cientes da intenção de doar, já que a lei brasileira exige a aprovação da família para a retirada de órgãos e tecidos para transplante.
Conforme o médico, o Projeto Doar é Legal foi reconhecido nacionalmente e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) passou a realizar a coordenação junto a outros tribunais. No Rio Grande do Sul, o Doar é Legal é executado pelo Tribunal de Justiça e conta com o apoio da Secretaria Estadual da Saúde – Central de Transplantes, da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), do Hemocentro do Estado e da Via Vida Pró Doações e Transplantes. Contudo, nada substituiu uma conversa franca sobre o tema, até porque, segundo Lessa, essa decisão é determinante para salvar vidas e não acarreta nenhum tipo de dano ao corpo do ente querido, como imagina o senso comum.
Desde a fundação, a Central de Transplantes do Rio Grande do Sul já realizou mais de 15 mil transplantes. Esse número poderia ser maior se os familiares fossem avisados sobre a vontade de cada pessoa em ser doador. Atualmente, aguardam por um transplante, no Rio Grande do Sul, mais de 1,2 mil pessoas, sendo que no Brasil este número sobe para 45 mil. Entre os órgãos mais demandados no Estado, estão: rim (1202), córnea (1299), fígado (161), pulmão (62) e coração (11). Em Caxias do Sul, foi comemorado, no dia 12 de Abril, o Dia Municipal do Doador de Órgãos e Tecidos. A data foi instituída pela Lei 7.782, de 9 de junho de 2014, com o objetivo de divulgar a importância da doação, visando salvar e melhorar a qualidade de vida de pessoas que estão em filas de espera.