Neste 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+, o mundo relembra um marco da luta por igualdade e respeito: a Rebelião de Stonewall, ocorrida em 1969, nos Estados Unidos. O episódio, protagonizado por pessoas LGBTQIAPN+ contra a violência policial em um bar de Nova York, deu início a um movimento global por direitos civis, visibilidade e dignidade. No Brasil, embora avanços legais tenham ocorrido, como o reconhecimento do casamento homoafetivo e o direito ao nome para pessoas trans, a luta ainda é diária — especialmente contra a violência e a discriminação.
Exemplo dessa resistência é Cleo Araújo, a primeira vereadora transexual da história da Câmara Municipal de Caxias do Sul. Ela assumiu temporariamente em 2021, como terceira suplente do Partido dos Trabalhadores (PT), após obter 1.045 votos nas eleições de 2020. Em entrevista, Cleo destacou a importância de datas como o Dia do Orgulho para ampliar o debate e lembrar que os direitos da comunidade LGBTQIAPN+ ainda estão longe de serem plenamente garantidos.
“Se todos fôssemos iguais, não estaríamos lutando ainda por direitos. A gente não estaria se suicidando”, afirmou, relembrando o caso recente de uma mulher trans de Caxias do Sul que tirou a própria vida em decorrência de rejeição familiar e sofrimento psicológico. Cleo também chama atenção para os altos índices de violência contra pessoas trans no Brasil, país que segue liderando o ranking mundial de assassinatos dessa população, segundo a ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais).
Apesar do cenário difícil, ela reconhece avanços, como a criação de uma casa de acolhimento em Caxias do Sul, mantida principalmente por doações da comunidade. “Ela completou quatro anos e é um espaço vital para quem está no início da transição ou sofre rejeição familiar”, conta Cleo. Para ajudar a manter o projeto, ela lançou um livro de autoajuda que será disponibilizado gratuitamente em formato digital e cuja venda física ajudará a ONG Construir Igualdade a adquirir uma sede própria.
Bacharel em Direito, Cleo também destacou o papel do Supremo Tribunal Federal (STF) em assegurar direitos básicos da população LGBTQIAPN+, muitas vezes na ausência de iniciativas legislativas. “Hoje temos 437 projetos anti-LGBT em tramitação no Congresso, segundo o Observatório do Congresso. Isso mostra que precisamos continuar lutando”, ressalta.
Cleo, que hoje é a primeira suplente do PT na Câmara de Vereadores, acredita que sua presença na política abre portas para uma nova visão da cidade. “Dizem que Caxias é preconceituosa, mas quase me elegeu. Meus votos aumentaram 55%. A cidade está começando a enxergar com outros olhos”, afirma.
Em sua mensagem para o Dia do Orgulho LGBTQIAPN+, Cleo reforça: “Resista sendo quem você é. A tua existência é um direito. Não importa se você é LGBT ou não. Se você se sente diferente, resista. É com resistência que a gente constrói um mundo melhor”.
A sigla LGBTQIAPN+ representa a diversidade de orientações sexuais e identidades de gênero: Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Queer, Intersexo, Assexuais, Pansexuais, Não-binários, e o “+” que abarca outras identidades. Neste 28 de junho, mais do que celebração, o dia é um chamado à ação contínua por igualdade e dignidade para todas as pessoas.