Em maio de 2024, o Rio Grande do Sul viveu uma das piores tragédias climáticas de sua história. A devastação causada por enchentes, deslizamentos de terra e outros fenômenos meteorológicos extremos afetou 478 municípios, resultando em 184 mortes e dezenas de desaparecidos. Um ano após os eventos que marcaram profundamente a população gaúcha, a Defesa Civil do Estado reflete sobre os desafios enfrentados, as lições aprendidas e as estratégias preventivas que estão sendo adotadas para evitar novas tragédias. Em Caxias do Sul, deslizamentos aconteceram no bairro Galópolis, no dia 02 de maio de 2024, resultando na morte de sete pessoas.
Em entrevista para à Rádio Caxias, a chefe de Comunicação da Defesa Civil do Rio Grande do Sul, tenente Sabrina Ribas, disse que o trabalho da entidade foi essencial para o socorro às vítimas, com uma resposta rápida e articulada que envolveu não só os militares estaduais, mas também a colaboração de órgãos federais e até de Defesa Civil de outros estados. A tenente também destacou o esforço coletivo durante o ano passado, ainda que contasse com um efetivo diminuto. “O nosso pessoal se esforçou de maneira sobre-humana para apoiar os municípios e as pessoas afetadas. Mesmo com um quadro reduzido, conseguimos atuar de forma coordenada e eficiente,” afirmou.
Neste sentido, uma das principais mudanças no último ano, segundo a tenente, foi o aumento expressivo no efetivo da Defesa Civil. Se em 2024 a equipe era composta por 49 militares, atualmente, esse número saltou para 120. Além disso, 47 novos técnicos de diversas áreas, como meteorologia, engenharia, geoprocessamento e assistência social, foram integrados, aumentando a capacidade operacional da instituição.
Conforme a tenente Sabrina, o grande desafio, agora, é trabalhar para minimizar os impactos de futuros desastres. Para isso, ações de prevenção estão sendo intensificadas. Entre os projetos mais relevantes, ela destaca a construção de centros regionais de proteção e defesa civil, que serão instalados em diversas cidades do interior, além de um centro estadual em Porto Alegre. Conforme a tenente, esses centros terão a missão de garantir a continuidade das operações em situações de crise, mesmo quando houver falhas nas comunicações ou interrupções de energia.
Ainda conforme a entrevistada, em paralelo, a Defesa Civil está implementando uma rede de monitoramento mais robusta. Um novo radar foi instalado em Porto Alegre, e até o final de 2025, outros três radares serão distribuídos pelas regiões da Serra, Oeste e Sul do estado, cobrindo 100% do território gaúcho. A tenente garante que esse sistema ajudará a melhorar a assertividade dos alertas meteorológicos, um dos principais pontos de aprendizado após a tragédia. Além dos radares, Sabrina conta que o governo do estado investe na instalação de 130 estações meteorológicas e no aprimoramento das ferramentas de modelagem hidrodinâmica para monitoramento dos rios, o que permitirá uma resposta mais rápida e eficiente.
Conforme a tenente, outro aspecto fundamental para a prevenção de novas tragédias é a capacitação. Por essa razão, a Defesa Civil iniciou um processo de formação dos coordenadores municipais de proteção e defesa civil, com o objetivo de melhorar a capacidade de resposta local. Além disso, Sabrina explica que a população também desempenha um papel crucial nesse processo. Inclusive, foi desenvolvido um curso de capacitação básica para os municípios, focado em prepará-los para enfrentar os desastres naturais com mais eficiência, em parceria com o Ministério Público.
Além disso, a tenente Sabrina Ribas reforça a importância de uma cultura de prevenção. “Em países como o Chile ou o Japão, a cultura de prevenção já está muito mais consolidada. As pessoas sabem o que fazer quando recebem um alerta. No Brasil, ainda estamos caminhando nesse sentido,” afirmou. A tenente explica que para ajudar a população a lidar com os alertas de forma mais eficaz, a Defesa Civil implementará um novo formato para os avisos, incluindo mais informações sobre o grau de severidade e orientações claras sobre como agir.
A interação com a população também é essencial. Durante o evento de 2024, muitas pessoas não sabiam como agir frente aos alertas, o que resultou em uma sobrecarga das forças de resgates. Por isso, a Defesa Civil está reforçando a importância do comportamento de autoproteção, como procurar abrigos seguros ou seguir rotas alternativas em caso de risco iminente.
Uma Nova Fase para o Rio Grande do Sul
A tragédia de maio de 2024 foi um marco que mudou a forma como o Rio Grande do Sul se prepara e responde a desastres climáticos. Através do fortalecimento das estruturas de apoio, a capacitação de equipes e a maior integração entre os diferentes níveis de governo e a sociedade, o estado avança na construção de uma rede mais resiliente e bem preparada.
Com a implementação de novos centros de operação, mais tecnologias de monitoramento e uma população mais consciente, o Rio Grande do Sul começa a entrar em uma nova fase, mais preparada para enfrentar os desafios climáticos que, infelizmente, parecem ser cada vez mais frequentes. A lição é clara: a prevenção não pode ser negligenciada, e a colaboração de todos é essencial para reduzir os danos humanos e materiais em eventos de grande escala.
Em memória das vítimas de 2024, a Defesa Civil segue trabalhando, não apenas para ajudar nas crises, mas para evitar que novas tragédias se repitam. A cultura de prevenção está em constante evolução, e o compromisso é, agora mais do que nunca, coletivo.
Confira aqui a entrevista completa.