Circula nas redes sociais um boato de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, poderia bloquear o sinal de GPS no Brasil. A informação, no entanto, é falsa. Quem afirma isso é o professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e doutor em Física, Alexandre Mesquita.
Em entrevista ao Jornal da Caxias, Mesquita explicou que o sistema GPS (Global Positioning System) não permite esse tipo de bloqueio localizado. Segundo ele, além de ser tecnicamente inviável, a medida impactaria diversos outros países e setores essenciais.
“É um boato sem fundamento. O sistema GPS funciona de forma global. Os sinais são transmitidos de forma contínua por satélites e captados por qualquer receptor adequado na superfície. Não é possível ‘desligar’ o GPS apenas no Brasil sem afetar uma região muito maior”, afirmou o professor.
Como o sistema funciona
Criado nos anos 1960 para uso militar e liberado para civis a partir dos anos 1980, o GPS depende de uma constelação de pelo menos 24 satélites. De acordo com o professor da UCS, para funcionar corretamente, o receptor — como um celular ou rastreador — precisa captar sinais de quatro satélites ao mesmo tempo. Esses sinais são transmitidos de forma contínua e indiscriminada, como uma frequência de rádio.
“É como um rádio: o sinal é transmitido e qualquer um com o receptor consegue captar. Não é possível escolher para quem o sinal chega — ele é global”, explicou.
Bloqueio seria inviável
Mesquita esclarece que, embora existam dispositivos capazes de interferir no sinal, conhecidos como jammers, seu uso em larga escala seria tecnicamente complexo e logisticamente inviável.
“Esses dispositivos precisariam estar fisicamente presentes em território brasileiro, em grande número e com alimentação constante de energia. Além disso, nenhum país permitiria que outra nação instalasse esse tipo de equipamento em seu território”, explicou.
Além disso, o professor destacou que o Brasil, assim como a maioria dos países, não depende exclusivamente do sistema GPS americano.
Uso de sistemas alternativos
Conforme Mesquita, atualmente, a maioria dos smartphones e dispositivos modernos utilizam o GNSS (Sistema Global de Navegação por Satélite), que integra múltiplos sistemas de posicionamento, como o russo GLONASS, o europeu Galileo e o chinês BeiDou, além do próprio GPS.
“Se um sistema estiver fora do ar, os aparelhos recorrem automaticamente aos outros. Então, mesmo que fosse possível desligar o GPS, o impacto seria mínimo ou nenhum para os usuários”, disse.
Impacto seria global
Num cenário hipotético de desligamento total do GPS, o impacto seria severo em escala mundial. Segundo Mesquita, áreas como logística, agricultura, segurança pública, comunicações e até transações bancárias seriam afetadas.
“É uma tecnologia crítica, usada não apenas por civis, mas também em aplicações militares e comerciais. A simples ideia de desligá-la deliberadamente é irresponsável e geopolíticamente insustentável”, afirmou.
Alerta contra fake news
Mesquita aproveitou a entrevista para fazer um alerta sobre a disseminação de informações falsas. Para ele, a cultura da checagem deve ser fortalecida.
“É importante buscar fontes confiáveis e não compartilhar informações sem verificar. Muitas vezes o boato se espalha porque confirma crenças pessoais ou causa alarde. Mas é dever de todos buscar a verdade”, completou.

A entrevista foi conduzida pela jornalista, Noriana Behrend, está disponível na íntegra neste link.