Um ano após as enchentes de maio de 2024, mais da metade dos micro e pequenos negócios do Rio Grande do Sul ainda enfrenta dificuldades para retomar plenamente suas atividades. É o que revela a Pesquisa de Impacto 2025 – Eventos Climáticos, realizada pelo Sebrae RS, que mostra um cenário de recuperação lenta e cheio de obstáculos.
Segundo o levantamento, apenas 46% dos negócios estão operando normalmente. Outros 45% ainda estão em processo de reestruturação, 7% seguem com as atividades paralisadas e 2% fecharam definitivamente. Entre os microempreendedores individuais (MEIs), o impacto é ainda mais severo: 13% não conseguiram retomar suas atividades ou encerraram os negócios. Conforme dados da pesquisa, as principais barreiras enfrentadas pelos empresários são a falta de recursos próprios (84%), a dificuldade de acesso ao crédito (50%) e a queda de faturamento (87%). A crise também é agravada por outros fatores como a retração da demanda (79%), dificuldade de acesso físico às empresas (75%), perda de estoques (57%) e danos estruturais (47%). Além disso, 35% dos empreendedores afirmam não ter recebido nenhum tipo de apoio para a retomada, e quase metade (47%) ainda não adotou medidas preventivas para futuros desastres climáticos.
Em entrevista para à Rádio Caxias, o gerente de Competitividade Setorial do Sebrae RS, Augusto Martinenco, disse que os números reforçam a gravidade da situação enfrentada pelas mircro empresas. Conforme ele, chama bastante a atenção, o número de negócios que ainda não voltaram ao estágio de operação pré-enchente, pois muitas perderam tudo da noite para o dia, como estoques, equipamentos, estrutura física. De acordo com Martinenco, para se reconstruir, foi necessário fazer investimentos — muitas vezes não planejados — e agora essas empresas enfrentam o desafio de pagar esses financiamentos em um cenário de faturamento reduzido.
Martinenco explicou que a atuação do Sebrae RS se dividiu em duas fases: uma inicial e emergencial, focada na reconstrução e na reposição de estruturas básicas; e uma segunda, voltada ao planejamento estratégico e reconexão com mercados, especialmente para empresas cujo público consumidor também foi afetado pelas enchentes. O gerente lembra que, para muitos, especialmente os MEIs e negócios locais, alcançar novos mercados — como por meio do e-commerce — exige planejamento e adaptação logística e tributária. Para Marinenco, este é um processo que envolve mudança de mentalidade e apoio técnico, ou seja, nem todos conseguiram contar com o suporte.
Martinenco também pontua que os desafios enfrentados agora são a soma de diversos eventos extremos. Segundo ele, antes das enchentes, muitos já haviam passado por uma pandemia e por períodos de seca severa. Para o integrante do Sebrae RS, esses fatores somados criaram um ambiente extremamente desafiador para os pequenos negócios no estado. Diante desse cenário, Martinenco reforçou a necessidade de políticas públicas e iniciativas coordenadas entre governo, setor privado e sociedade para garantir a sobrevivência dos pequenos negócios e prepará-los para os impactos crescentes das mudanças climáticas.
Confira aqui a entrevista completa.