O termo doação de órgãos ganhou evidência no Brasil, recentemente, após o apresentador de TV, Fausto Silva, o Faustão, de 73 anos, ser internado com um quadro de insuficiência cardíaca e receber um novo coração. Ele passou 20 dias na fila do transplante. O Setembro Verde é o mês dedicado à conscientização e ao incentivo à doação de órgãos no país. O objetivo é destacar que a informação sobre o ato pode salvar vidas. Isso porque ser doador é ser solidário. Uma única pessoa pode salvar, pelo menos, dez pessoas com transplante dos órgãos como rins, fígado, coração, pulmões, pâncreas, intestino, córneas, pele, ossos e tendões.
Com um sistema complexo de doações no país, se tornar doador é um passo importante. Para que a doação ocorra, é necessária a autorização dos familiares da pessoa que tenha sofrido morte encefálica. Ela é definida como a ausência de todas as funções neurológicas, sendo permanente e irreversível, geralmente, vítimas de traumatismo craniano ou de acidente vascular cerebral (AVC) confirmadas. Portanto, a decisão da família do doador é fundamental para que o procedimento aconteça assim como, de cada pessoa comunicar, previamente, o desejo por ser um doador.
Esta é a história de Alexsandra Michellin, de 47 anos, transplantada de córneas há 70 dias. No meio da fila de espera, ela precisou lidar com o falecimento da irmã de 58 anos, vítima de um aneurisma hemorrágico. A família autorizou a doação, sendo os dois rins, duas córneas e o fígado doados. Ato que se tornou esperança para outras pessoas. Após um mês e cinco dias, na expectativa de ser chamada, Alexandra foi contemplada com uma córnea compatível.
A advogada destaca que o ato de doar é uma conexão, que promove uma mobilização completa. Ela avalia que, assim como ocorreu com a irmã, o ato de doar se transforma em uma lembrança boa da pessoa querida.
Dados do Ministério da Saúde revelam que o Brasil é referência mundial e possui o maior sistema público de transplantes do mundo. O país é o segundo maior transplantador do planeta, atrás apenas dos Estados Unidos. Mais ainda há muito a ser mudado. Ser um doador significa a única esperança de tantas pessoas que aguardam na fila de espera, nas redes pública e privada para pacientes que precisam das cirurgias. O cadastro é único e fica na Central de Transplantes da Secretaria de Saúde de cada Estado, controlado pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT). Os pacientes em estado crítico recebem prioridade, devido à condição clínica. A ordem de chegada também funciona como critério de desempate quando os requisitos técnicos são semelhantes.
Diante da pandemia da Covid-19, os índices de doações pioraram e fila de espera se tornou ainda mais demorada. É o exemplo da doação de rim, onde cerca de 1.250 pessoas aguardam pela cirurgia, no Rio Grande do Sul. Neste caso, a estimativa de espera é de um ano e meio. Atualmente, 16 pessoas aguardam por um coração, 172 pessoas por um fígado, e 1.203 por uma córnea, no território gaúcho.
Uma dessas pessoas é Gisele Monteiro Soeiro, de 37 anos. Elam foi transplantada em 2003, mas teve o órgão rejeitado pelo organismo. A auxiliar judiciária aguarda na fila, há sete anos por um novo transplante. Segundo ela, muitas vezes, a falta de conhecimento por parte da população é fator que resulta em uma maior demora na espera. Gisele salienta que o tema precisa ser mais discutido pela sociedade.
Em Caxias do Sul, o Hospital Pompéia é líder em captação de transplantes de córneas na região. Segundo a coordenadora da Comissão de Doação de Órgãos, Ana Paula Casagrande, estudos apontam que cerca de 30% de pessoas acabam morrendo na fila de espera. As principais causas são a demora e a recusa das famílias.
O transplante de órgãos começa com a identificação de pacientes que necessitam da cirurgia. Os critérios técnicos incluem a tipagem sanguínea, compatibilidade de peso, altura e genética, e critérios de gravidade distintos para cada órgão. A ordem de preferência é determinada com base nessas informações. Segundo dados, até o momento, neste ano, o Rio Grande do Sul teve 186 doadores. Dado que representa um percentual de 34% em mortes encefálicas. Uma vez autorizada a doação, são realizados exames para avaliar a presença de doenças transmissíveis, como HIV, hepatite B e C, entre outras. A etapa garante a segurança do receptor do órgão.
Após a autorização e a confirmação de que o doador é compatível, o procedimento cirúrgico para a retirada dos órgãos é realizado. O processo é delicado e exige uma equipe médica especializada. O órgão retirado é transplantado para o receptor. A cirurgia é complexa e requer cuidados intensivos pós-operatórios. Após o transplante, os pacientes necessitam de acompanhamento médico contínuo e tratamento com medicamentos específicos para evitar rejeição do órgão.
Ketlim Coelli Gomes, de 34 anos de idade passou pelo transplante de rim, há sete meses. Com um histórico familiar de problemas renais, a auxiliar administrativa realizou exames para tentar ser doadora da prima de 36 anos. Foi quando descobriu que também estava doente. Ela conta que o processo do pós transplante precisa muito do apoio e do diálogo com a família.
Mas o que muita gente não sabe é de que não são apenas pessoas com morte cerebral que podem se tornar doadores. Você e qualquer pessoa saudável e capaz, que concorde com o ato da doação e possa realizar sem prejudicar a própria saúde, pode realizar este ato de amor. O doador vivo pode doar um dos rins, parte do fígado ou do pulmão, e medula óssea. Converse com a família e os amigos sobre a doação de órgãos. O seu “sim” pode salvar muitas vidas.