Diante do alarmante cenário de adoecimento e até morte de professores em escolas brasileiras, a urgência de discutir saúde emocional na Educação tornou-se evidente. Enquanto muitas redes públicas seguem inertes, Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, se destacou, no final de junho, ao promover uma jornada formativa inédita voltada à saúde mental de seus gestores escolares. O foco? Acolhimento, vínculo e uma liderança mais humanizada nas escolas.
A ação vem como resposta concreta a uma realidade preocupante. Em entrevista para a Rádio Caxias, a pesquisadora, professora e palestrante com experiência da Educação Básica ao Ensino Superior, Irene Reis — que além disso também é especialista em Neurociência e Comportamento, Inteligência Emocional e Saúde Mental pela PUC, com MBA em Gestão Escolar pela USP, mestrado em Ciências da Educação e atualmente é doutoranda em Saúde Mental no Desenvolvimento Profissional — disse que, apenas em 2020, foram registradas 13,3 mil mortes de professores no Brasil, sendo 142 por suicídio — uma média de três casos por semana. Para Irene, esses números escancaram um problema estrutural que não pode mais ser ignorado. Isso porque, conforme a docente, “quase 70% dos professores apresentam sintomas de exaustão emocional, e mais de 30% vivem a chamada despersonalização. Isso significa que mais da metade dos educadores está em sala de aula sofrendo de burnout, o que compromete diretamente o processo de ensino-aprendizagem”.
Sendo assim, a formação em Bento Gonçalves surge como um modelo de cuidado que parte da liderança escolar, ou seja, visando capacitar diretores e coordenadores para reconhecerem sinais de esgotamento, criarem espaços de escuta e promoverem vínculos mais humanos dentro da comunidade escolar, sendo este, na opinião da docente, muitas vezes, o primeiro passo para mudar essa realidade. Conforme Irene, “se a gente aprende a partir das emoções, é imprescindível que o educador esteja emocionalmente bem. Afinal, o professor é um desenvolvedor humano por excelência. Ou seja, o que ele sente, o que ele é, reverbera nas crianças”.
A professora também chamou atenção para outro ponto sensível: a sobrecarga imposta pela desestruturação familiar. Segundo a docente, “a escola, atualmente, não é apenas um espaço de aprendizagem, mas o principal pilar da vida das crianças. Muitas famílias, por desconhecimento ou falta de repertório, transferem à escola responsabilidades que não são apenas pedagógicas, mas sociais e emocionais. E a escola, por sua vez, não tem estrutura para lidar com tudo isso sozinha.”

Segundo a pesquisadora, a saída está na articulação entre áreas como psicologia, neurociência, assistência social e educação. Irene pondera que “precisamos criar redes de apoio que envolva a escola e a família, promovendo momentos de escuta e formação conjunta. Pois, a educação não pode ser um ato solitário.”
Irene Reis, que é doutoranda em Saúde Mental no Desenvolvimento Profissional, reforça que o problema da saúde mental na educação é estrutural, e não um reflexo de “fraqueza individual”. Sendo reflexo direto de salas lotadas, falta de apoio emocional, carga burocrática excessiva e, sobretudo, da falta de valorização do professor enquanto figura central no desenvolvimento humano.
A pesquisadora assinala que a jornada formativa em Bento Gonçalves é um passo relevante — e necessário — para mudar esse cenário. Todavia, adverte que “cuidar de quem cuida é o mínimo que podemos fazer se queremos garantir uma educação de qualidade. E isso começa com liderança empática, com a criação de ambientes escolares que acolham, respeitem e valorizem seus profissionais.”
A expectativa agora é que outras redes de ensino, inspiradas pela iniciativa gaúcha, sigam o mesmo caminho. Afinal, a saúde emocional dos professores é a base para o futuro das nossas crianças.
Confira aqui a entrevista completa.