A safra de uva 2024/2025 na Serra Gaúcha promete ser surpreendente. De acordo com levantamento da Emater/RS-Ascar, realizado em 55 municípios, a estimativa é de uma produção de 860 mil toneladas, o que representa um aumento de 55% em relação à safra anterior (2023/2024) e de 5% em comparação com uma safra considerada habitual. O volume inclui uvas para transformação industrial, consumo doméstico e também para o mercado in natura.
Entre os produtores da região, destaca-se o jovem agricultor Alan Pagliosa, de 22 anos, que cultiva uvas na comunidade de São Pedro e São Paulo, na Terceira Légua, em Caxias do Sul. Junto de sua família, Alan cultiva cinco hectares de parreirais, onde espera colher mais de 100 mil quilos de uva nesta safra. Apesar das boas expectativas em relação à qualidade da fruta, com um alto teor de açúcar e boa graduação, Alan destaca os desafios enfrentados pelos agricultores, a exemplo da pressão dos compradores que buscam adquirir a uva rapidamente, gerando dificuldades para os produtores. “A uva, em questão de 15 dias, pode estragar, então, muitas vezes, as cantinas pressionam os agricultores a entregar a fruta pelo preço que eles determinam”, afirma Alan, ressaltando a necessidade de melhores preços para compensar o aumento dos custos de produção.
A família Pagliosa tem se dedicado à agricultura familiar e, mesmo com a pressão econômica, Alan acredita na importância de manter a tradição e a história do cultivo de uvas. “Meu trisavô foi quem iniciou a construção da propriedade, e acredito que é fundamental preservar essa cultura e tradição”, declara. Para isso, a diversificação é uma das alternativas encontradas pela família para agregar valor à propriedade. Além das variedades de uvas tradicionais, como Bordeaux, Isabel e Niagara, Alan também aposta no turismo rural, já que a propriedade está localizada em um ponto do interior caxiense e que atrai visitantes interessados na Vindima, ou seja, época de colheita da uva. “Durante a Vindima, os turistas param para degustar as uvas diretamente dos parreirais, o que valoriza ainda mais a nossa produção”, explica.
Como técnico em agropecuária formado pela Escola Família Agrícola da Serra Gaúcha (Efaserra), Alan também busca aplicar técnicas sustentáveis em sua produção. Ele conta que a cobertura verde, por exemplo, foi uma inovação que ajudou a reduzir o uso de herbicidas e melhorar o manejo da terra. “Antigamente, a terra ficava limpa, mas agora conseguimos usar plantas para cobrir o solo, o que ajuda a controlar as ervas daninhas e ainda fornece nutrientes para as parreiras”, conta. Embora o terreno inclinado da propriedade dificulte o uso de maquinário moderno, Alan acredita que a inovação e a melhoria dos equipamentos podem trazer soluções para esses desafios, permitindo maior eficiência na colheita e redução de custos.
E ainda que a expectativa para a safra de 2024/2025 seja positiva, Alan reforça que os desafios seguem presentes, exigindo resiliência e inovação dos agricultores da Serra Gaúcha. Neste sentido, a história de Alan Pagliosa é um reflexo do esforço contínuo da agricultura familiar na região, que busca equilibrar tradição e inovação para garantir o futuro da produção de uva.