O gênero musical bugio, marcado pelo toque sincopado no acordeão, foi oficialmente reconhecido como patrimônio cultural imaterial do Rio Grande do Sul. A decisão, que valoriza décadas de história e tradição, também abre caminho para a formulação de políticas públicas de preservação, promoção e transmissão desse ritmo às futuras gerações.
Mais do que um estilo musical, o bugio é um símbolo da alma gaúcha. Sua origem remonta às primeiras décadas do século XX, quando era considerado parte do folclore regional. Era tocado em pequenas festas do interior com gaitas de botão, em melodias simples que refletiam o cotidiano da vida no campo.
A sonoridade que imita o som do macaco bugio, típico das matas do Estado, ajudou a consolidar sua identidade e o nome do ritmo. Israel da Sóis Sgarbi, músico e pesquisador que dedicou dez anos a uma obra sobre o gênero (O Ritmo Musical do Bugiu), destaca a origem folclórica do bugio e como o gênero foi enriquecendo com o tempo.
O que antes era visto como música marginalizada passou a ocupar palcos maiores e conquistar públicos diversos. A autenticidade sonora é um dos principais motivos de sua valorização cultural, conforme Israel, sendo considerado um dos poucos ritmos que expressam com tanta fidelidade o espírito de uma região.
O pesquisador também aponta o bugio como um símbolo de identidade cultural para o povo gaúcho. O reconhecimento oficial como patrimônio cultural imaterial, segundo Israel, pode ajudar a expandir o gênero não apenas no meio tradicionalista, mas também como produto cultural exportável, capaz de gerar renda e movimentar o turismo cultural.
A decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae) abre espaço também para políticas públicas que incentivem sua preservação por meio de festivais, oficinas e projetos educativos.
A oficialização do gênero como patrimônio imaterial do estado é apenas o começo de uma nova fase para esse ritmo centenário. De acordo com Israel, os próximos objetivos são buscar o reconhecimento do gênero como patrimônio nacional, e depois, mundial.