Em 25 de maio celebra-se o Dia Nacional da Adoção, e a sociedade é convidada a refletir sobre o direito de crianças e jovens à convivência familiar e comunitária com dignidade, um dos princípios centrais do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A data, comemorada desde 1996 e oficializada pela Lei nº 10.447, em 2002, destaca a importância da adoção e a necessidade de debater os preconceitos que ainda cercam o processo, especialmente em relação a crianças maiores de 8 anos, adolescentes, portadores de deficiência ou grupos de irmãos.
Atualmente, o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), aponta que o Brasil possui mais de 32 mil pessoas interessadas em adotar, mas mais de 94% desses pretendentes optam por crianças menores de 8 anos. O preconceito com a adoção de crianças em situações mais desafiadoras ainda é um grande obstáculo, e a adoção “necessária”, que envolve crianças mais velhas ou com necessidades especiais, muitas vezes é vista com resistência.
Em meio a essa realidade, o lançamento do filme “Por Todos Nós”, uma produção caxiense que será exibida em abril deste ano, promete trazer à tona a complexidade e as emoções do processo de adoção. A roteirista e atriz Suzy Menegatti, uma das idealizadoras da obra, compartilhou a inspiração por trás do filme: “A produção vai contar a história real de uma família caxiense que, após esgotar todas as possibilidades de engravidar, realiza o sonho de ter um filho por meio da adoção. Buscamos dar voz a essa dor silenciosa enfrentada por muitas famílias e, ao mesmo tempo, desmistificar os preconceitos sobre a adoção”, afirmou. Menegatti ainda destacou a importância de representar a cultura e a linguagem local, com o apoio de profissionais da região e a participação da família real que inspirou a história.
Por outro lado, a historiadora Maria Helena Mion Barbiero trouxe uma perspectiva histórica importante sobre a adoção. Segundo ela, a prática de adoção remonta à Antiguidade e está profundamente ligada à necessidade de perpetuar a memória dos ancestrais e manter o culto aos deuses. “Já no Código de Amurabi, da civilização mesopotâmica, há registros sobre a adoção como um meio de garantir a continuidade da família e a religiosidade”, explicou a historiadora. Esse aspecto de continuidade familiar era central nas civilizações antigas, e a adoção desempenhava um papel crucial na manutenção desses valores.
A fala de Barbiero e o filme “Por Todos Nós” se conectam ao refletir sobre como a adoção não deve ser apenas um processo jurídico, mas uma construção de afetividade e aceitação, valores que muitas vezes ainda são desafiados pelo preconceito na sociedade contemporânea. O sistema de adoção brasileiro, regido por leis claras e processos que incluem cursos preparatórios e avaliações técnicas, está evoluindo, mas a mudança cultural, especialmente em relação à adoção de crianças mais velhas e com necessidades especiais, segue sendo um desafio.
O Dia Nacional da Adoção serve, portanto, não apenas para comemorar o direito das crianças a uma família, mas para convidar a sociedade a pensar sobre como podemos transformar realidades, combater tabus e garantir que a adoção seja vista como um ato de amor, respeito e igualdade para todos.