Os dados são do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), e apontam que ao menos 70 mil pessoas perderam a mãe no Brasil, nos últimos dez anos, em decorrência de crimes violentos contra mulheres. Desse total, aproximadamente 19,5 mil são filhos de vítimas de feminicídio, entre 2015 e o início de 2025.
Outra dado importante e que tem relação com os gaúchos é o que consta no Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2025, o qual indica que o Rio Grande do Sul lidera o ranking nacional de feminicídios , mesmo com medida protetiva de urgência ativa. Em 2024, por exemplo, foram 14 mulheres assassinadas nessas condições — 27% dos casos registrados no país inteiro. No ano anterior, foram 22 no estado.
O número revela a face menos visível da violência de gênero: o impacto direto sobre crianças e adolescentes, que além da perda da mãe, muitas vezes também ficam sem o pai — preso ou indiciado como autor do crime.
Para analisar os reflexos psicológicos dessa realidade, a Rádio Caxias ouviu a psicóloga Adriana Boz, que atua em direitos humanos, responsabilidade social e cidadania global, em Caxias do Sul. Segundo ela, o trauma provocado pelo feminicídio tem consequências profundas e duradouras. Isso porque, via de regra, de acordo com a psicóloga, “essas crianças geralmente já viviam em um ambiente de violência. A morte da mãe representa a ruptura completa da estrutura familiar. O acolhimento precisa ser cuidadoso e contínuo”.
De acordo com Adriana, os impactos mais comuns incluem regressão comportamental, queda no desempenho escolar, alterações no sono, distúrbios alimentares e até sintomas de transtornos de ansiedade e depressão. Em casos mais graves, pode haver necessidade de internação psiquiátrica.
A psicóloga também alertou para a naturalização da violência nas redes sociais e na cultura popular, que muitas vezes reforçam comportamentos abusivos, como o ciúme e a posse em relações afetivas. De acordo com Adriana, “o feminicídio não é um crime passional, é um crime de controle e poder. Ou seja, precisamos desconstruir essa lógica, desde cedo, com educação emocional e afetiva para meninos e meninas”.
O levantamento dos dados ocorre no início da campanha Agosto Lilás, que visa conscientizar a população sobre a violência doméstica e reforçar a importância da Lei Maria da Penha. Adriana destaca que o suporte a essas crianças e adolescentes deve envolver não apenas a psicologia, mas também a assistência social, o sistema de Justiça e as políticas públicas.
A psicóloga ainda faz um alerta importante: “A sociedade tem responsabilidade nesse processo. O silêncio e a omissão perpetuam o ciclo da violência”, conclui.
Confira aqui a entrevista completa.