Celebrado em 18 de junho, o Dia do Orgulho Autista é mais do que uma data simbólica: é um convite à reflexão sobre inclusão, respeito e valorização da diversidade humana. Segundo a fonoaudióloga Cíntia Bonfante, especialista em fonoaudiologia neurofuncional e neuropsicologia, essa é uma data que desloca o foco da intervenção para a valorização da identidade única de cada pessoa autista.
A especialista lembra que ter orgulho de ser autista não significa ignorar os desafios, mas sim reconhecer que, apesar das barreiras impostas por uma sociedade que ainda não respeita a diversidade, essas pessoas existem, resistem e têm direito a ocupar todos os espaços — com suas particularidades.
Como fonoaudióloga, Cíntia destaca a importância da comunicação no desenvolvimento e na autonomia das pessoas com autismo. Ela explica que o papel da fonoaudiologia vai muito além de “ensinar a falar”. Para a especialista, ninguém se sente parte de um mundo onde não é compreendido. Por isso, oferecer uma forma de comunicação — mesmo que não seja verbal — é garantir um direito básico à existência com dignidade.
Apesar dos avanços, ainda há muita desinformação e preconceito em torno do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Cíntia relata que, frequentemente, famílias escutam frases como “cada criança tem seu tempo” ou “daqui a pouco ela fala”, o que retarda o diagnóstico e impede intervenções precoces, fundamentais para o melhor desenvolvimento da criança. Ela explica que o autismo é um espectro com diferentes níveis de suporte (1, 2 e 3), e que uma intervenção adequada e no tempo certo pode, inclusive, reduzir a necessidade de suporte ao longo da vida. Outro equívoco comum, conforme a especialista, é o estereótipo de que todo autista é igual.
Quando perguntada se a sociedade está mais aberta ao autismo, Cíntia reconhece avanços no discurso, mas diz que entre o discurso e a prática ainda existe um abismo. A verdadeira inclusão, segundo ela, exige adaptações reais — nas escolas, nos serviços públicos, nos lares. Ela denuncia a precariedade na rede de ensino, onde muitas vezes um único monitor precisa acompanhar várias crianças com autismo.
Neste dia 18 de junho, ela espera que a sociedade se lembre de que a inclusão começa com escuta, respeito e ação. Que o orgulho autista seja, acima de tudo, um grito coletivo por um mundo mais justo e adaptado às diferenças de todos.