Em mais um segundo domingo de agosto, celebramos o Dia dos Pais. Uma data que carrega, há décadas, a imagem da força, muitas vezes associada ao pai de sangue, mas que também pode ser vivida pelo pai adotivo, o pai do coração, pelo avô, por um familiar próximo e, em tantos lares brasileiros, pelas mães que assumem sozinhas o papel da criação. A figura paterna, no entanto, está em transformação. Se antes era vista apenas como provedora, hoje se espera dela presença, escuta e afeto. Ainda assim, vivemos tempos em que o envolvimento do pai na rotina dos filhos é frequentemente romantizado como um “algo a mais”, quando, na verdade, deveria ser um compromisso contínuo com o cuidado.
É justamente nesse cenário que vozes como a de Marcos Piangers ganham força. Escritor do best-seller Papai é Pop, com mais de um milhão de exemplares vendidos, e um dos principais nomes no Brasil quando o assunto é paternidade ativa, Piangers, que também é pai de duas meninas, tem ajudado a ressignificar o papel do pai na família contemporânea.
Para Piangers, a mudança cultural no papel paterno ocorre por meio da conscientização e da inspiração, de forma que um pai presente é capaz de transformar toda uma sociedade. Ele destaca o poder de compartilhar essa participação afetiva em um mundo cada vez mais tecnológico, além da necessidade de que as empresas incentivem e compreendam as demandas que surgem com a chegada de uma criança na vida do pai também.
Ele ressalta que muitos se preocupam em deixar uma herança para os filhos, mas esquecem que a ausência também é uma herança, e pode causar diversos reflexos negativos. Para ele, porém, nem tudo está perdido, sempre há tempo para se aproximar de um filho.
A psicóloga Sabrina Rugeri destaca que a presença paterna vai além do aspecto físico, sendo principalmente estabelecida e sentida por meio de pais emocionalmente disponíveis. Ela ressalta que não é apenas a ausência física que deixa uma herança negativa, mas a falta de envolvimento afetivo, capaz de causar marcas irreparáveis na infância, com reflexos duradouros na vida adulta.
O autor entende que, paralelamente ao papel atribuído ao pai, às tecnologias e ao ambiente corporativo, existe também uma camada essencial de responsabilidade governamental. Como ativista da causa das conexões familiares, Piangers atua em um grupo de trabalho criado na Câmara dos Deputados que propõe o aumento da licença-paternidade no Brasil.
Desde a promulgação da Constituição de 1988, a licença-paternidade aguarda reformulação. Atualmente, o período concedido aos pais é de apenas cinco dias, enquanto a licença-maternidade é de 120 dias. A proposta em debate visa ampliar esse tempo para 30 dias. A mudança é vista como parte de um processo cultural mais amplo e gradual, que reconhece o impacto direto da presença paterna não apenas na vida da criança, mas também na saúde física e emocional da mãe e no equilíbrio de toda a estrutura familiar.
Sobre as lições como pai, são muitas. Para Piangers, não existe um jeito “errado” de cuidar, o único erro é não cuidar. Ele reforça a importância de que as mães permitam a participação ativa dos pais, mesmo que eles façam algumas tarefas de forma diferente. Destaca ainda que mesmo quem não teve uma referência paterna pode construir uma paternidade amorosa e presente. Como pai e autor, ele aprendeu que a melhor forma de educar um filho é se educando primeiro.
Para a psicóloga Sabrina, o desenvolvimento da relação entre pais e filhos não está atrelado à quantidade de tempo que passam juntos, mas sim à qualidade desse tempo. Além disso, é necessário que os homens sejam, para além de figuras provedoras, pessoas emocionalmente conectadas aos filhos, por meio da expressão de sentimentos.
Neste Dia dos Pais, Piangers deixa uma mensagem especial àqueles que escolhem estar por inteiro.
A figura paterna, por tanto tempo distante ou endurecida, começa a ganhar contornos mais humanos, mais afetivos. Nesta data, que seja dia de abraçar, se possível, de perdoar, de recomeçar. De agradecer pelos que estiveram, de lembrar com carinho dos que partiram e de reconhecer, com respeito e admiração, todas as formas de paternidade: a do pai biológico, do pai que escolhe, do avô que cria, do tio que assume, da mãe que sustenta tudo sozinha. Que cada história encontre uma forma de celebrar. E que, a cada novo Dia dos Pais, menos filhos sintam a ausência e mais pais escolham ser presença.
Feliz Dia dos Pais!