As novas tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos, com alíquotas que chegam a até 50% para produtos como carne bovina, café, suco de laranja e calçados, estão criando uma tempestade para a economia brasileira. Na opinião de especialista, ouvidos pela reportagem da Rádio Caxias, a medida — anunciada durante o governo de Donald Trump e com entrada em vigor marcada para 1º de agosto — escancarou não apenas a vulnerabilidade comercial de setores estratégicos do país, mas também uma postura considerada “ingênua” do governo federal frente à escalada protecionista norte-americana.
Segundo o economista Mosar Leandro Ness, a ausência de uma reação diplomática imediata colocou o Brasil em uma posição delicada. Afinal, outros países conseguiram negociar reduções. O Brasil, não. De acordo com Mosar, houve um erro técnico e diplomático. E isso vai custar caro.
Já conforme projeções de economistas da ESPM e do banco Goldman Sachs, o impacto pode ser severo: queda de até 0,4 ponto percentual no Produto Interno Bruto (PIB) em 2025, inflação em alta e risco de aumento no desemprego. A estimativa inicial de crescimento para o próximo ano, que era de cerca de 2%, pode cair para 1,6%. Caxias do Sul e a região da Serra Gaúcha, que tem forte presença industrial e vocação exportadora, devem ser algumas das mais afetadas pelas tarifas.
O advogado Fábio Stefani, especialista em Direito Internacional, alerta para o desequilíbrio competitivo gerado: Com tarifas tão elevadas, o produto brasileiro simplesmente deixa de ser atrativo no mercado americano. Isso atinge em cheio as indústrias gaúchas que dependem desse canal de exportação.
Stefani também criticou a ausência de iniciativas formais do governo brasileiro na Organização Mundial do Comércio (OMC), lembrando que o país já teve êxito em disputas anteriores, como no caso do suco de laranja. Conforme ele, a OMC é a via institucional correta, mas depende de ação por parte do Estado. O Brasil ainda não se mexeu.
Mosar explica que além da queda no PIB, o tarifaço tende a pressionar o câmbio e provocar aumento nos preços de combustíveis, alimentos e produtos eletrônicos. O encarecimento do crédito também é uma preocupação. Menor receita nas exportações reduz o fôlego financeiro das empresas, afetando diretamente o volume de investimentos e a concessão de crédito ao consumidor.
Tanto Ness quanto Stefani identificam motivações políticas por trás da decisão americana. O cenário interno brasileiro – marcado por instabilidade institucional, tensões entre os Poderes e a possível condenação de figuras-chave da política nacional – teria influenciado negativamente a disposição da Casa Branca para o diálogo.
Embora a participação dos EUA nas exportações brasileiras tenha caído de 25% em 2002 para cerca de 12% em 2024, a medida ainda causa forte impacto em setores que mantêm dependência do mercado americano. A China, hoje responsável por 31% das exportações brasileiras, não absorve os mesmos tipos de produtos afetados pelo tarifaço. Para Stefani, a ausência de uma reação estratégica do Brasil é preocupante.
A combinação de diplomacia fraca, instabilidade política interna e dependência de mercados externos lança um alerta para o futuro do Brasil no comércio global. As tarifas americanas representam mais do que um revés pontual: evidenciam a necessidade urgente de uma política externa mais ativa, estratégica e menos reativa.
Caxias do Sul, a Serra Gaúcha e outras regiões industriais estão na linha de frente dessa nova realidade econômica – uma realidade que exige preparo, negociação e, acima de tudo, visão de longo prazo.