Com o anúncio de cessar-fogo entre Irã e Israel após 12 dias de bombardeios intensos, líderes de ambos os países proclamaram vitória. O Irã celebrou o fim da guerra como uma “grande vitória”, enquanto autoridades israelenses, incluindo o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, classificaram o desfecho como uma conquista estratégica que conterá o avanço nuclear iraniano. Apesar da trégua mediada por Estados Unidos e Catar, especialistas alertam que a tensão regional persiste.
No entanto, mais do que a resolução temporária de um confronto militar, o episódio reacendeu discussões sobre a forma como os conflitos são percebidos e tratados no mundo contemporâneo. O historiador Roberto Radünz, coordenador do Programa de Pós-Graduação em História da Unijuí, criticou o que chamou de “naturalização da guerra” dentro da lógica do capitalismo global. Para ele, embora o conflito entre Irã e Israel tenha mobilizado atenção internacional, não se enquadra nos critérios históricos e políticos que definem uma guerra mundial.
“A concepção de ‘guerra mundial’ está ligada ao contexto do século XX, com a Europa como epicentro e impactos diretos sobre quase todas as nações. Esses conflitos recentes não têm o mesmo perfil. São fragmentados, localizados, ainda que violentos”, explicou Radünz.
Segundo o historiador, chamar conflitos como o da “Guerra dos 12 Dias” de mundial seria uma simplificação equivocada. Ele destaca ainda o papel da indústria bélica como força permanente de estímulo à guerra, dentro de um sistema que lucra com a destruição.
“O maior complexo produtivo do mundo é a indústria bélica. Enquanto bombas valem bilhões, a guerra será um negócio viável. Isso desumaniza o processo e transforma a violência em algo corriqueiro”, afirmou.
Sobre o caso específico do Irã, Radünz questiona a retórica israelense em torno da ameaça nuclear. O país justificou seus ataques como preventivos, mesmo sob inspeções da ONU que não confirmaram desenvolvimento de armas. Para o professor, esse tipo de ação levanta suspeitas de manobras políticas internas ou regionais.
“Israel fala em ameaça nuclear quando há inspeções internacionais em curso. É legítimo questionar se não há aí um movimento para desviar o foco de outras questões”, sugeriu.
Radünz também ironizou o uso do nome “Guerra dos 12 Dias”, em referência à histórica “Guerra dos Seis Dias” de 1967. “Muito estranho. Está muito estranho”, concluiu.
O cessar-fogo entre Irã e Israel pode marcar o fim de um episódio, mas não encerra a espiral de tensões no Oriente Médio — nem o debate mais amplo sobre como os conflitos armados se tornaram parte estrutural do sistema político e econômico atual. Para especialistas como Radünz, entender esses confrontos requer muito mais do que manchetes ou declarações de vitória. Exige olhar crítico, histórico e humano.