A violência escolar, que recentemente chocou a cidade de Caxias do Sul, com o ataque de alunos a uma professora de inglês, tem gerado discussões sobre os fatores que impulsionam comportamentos agressivos entre os jovens. Em paralelo, o seriado “Adolescência”, da Netflix, tem se destacado ao tratar de um tema similar: um adolescente de 13 anos que comete um assassinato com uma faca, refletindo a difícil realidade de jovens isolados no mundo digital.
A psicóloga Juliana Piazza, especialista em atendimento a adolescentes e jovens, apontou que o caso de Caxias do Sul revela uma impulsividade crescente entre os jovens, uma característica exacerbada pela sociedade atual, onde a pressão por respostas rápidas e o imediatismo das redes sociais são predominantes. “A Geração Z, que cresceu com acesso constante à tecnologia, tem dificuldades em lidar com frustrações. Essa falta de habilidade para enfrentar críticas e frustrações, somada à rapidez das interações digitais, acaba gerando reações impulsivas e, em alguns casos, violentas”, explicou.
Piazza também ressaltou o impacto das mídias digitais na percepção de violência entre os adolescentes. O acesso fácil a conteúdos violentos e a naturalização de comportamentos agressivos pode fazer com que os jovens banalizem tais atitudes. “Hoje, vemos uma banalização da violência, muitas vezes impulsionada por conteúdos na internet que distorcem a realidade e não mostram as consequências dos atos violentos. A falta de intervenções adequadas e de diálogo sobre esses impactos agrava a situação”, afirmou a psicóloga.
Em “Adolescência”, o protagonista, Jamie, se isola emocionalmente ao se afundar no universo digital, criando uma barreira quase intransponível entre ele e seus pais. A psicóloga vê paralelos claros entre a ficção e a realidade, sugerindo que muitos jovens, ao se distanciarem de suas famílias, não conseguem encontrar suporte ou compreender as consequências de seus comportamentos. “O distanciamento emocional é um fator importante. Sem uma comunicação eficaz, os adolescentes não têm a oportunidade de aprender a lidar com suas emoções de maneira saudável”, completou Piazza.
O caso de Caxias do Sul e a trama de “Adolescência” sublinham a urgência de se repensar a educação emocional dos jovens, bem como a criação de ambientes de diálogo entre pais, escolas e especialistas. Piazza enfatizou que a solução para o problema da violência nas escolas não está em uma única causa, mas em uma combinação de fatores biopsicossociais. “A resposta a esse tipo de comportamento precisa ser multidisciplinar e envolver toda a comunidade escolar”, concluiu a psicóloga.
Conforme a psicóloga, com o aumento da digitalização e da pressão social sobre os jovens, é essencial que os adolescentes aprendam a lidar com as frustrações e desafios de maneira construtiva, sem recorrer à violência. A conscientização e a mobilização de todos os envolvidos no processo educacional são passos fundamentais para a construção de uma sociedade mais saudável e menos agressiva.