A chegada da geração Z ao mercado de trabalho não é só uma novidade; é um abalo sísmico que altera os alicerces da estrutura corporativa, forçando as empresas a se adaptarem a um perfil de profissional digitalmente conectado, inquieto e, acima de tudo, exigente. Nascidos entre 1995 e 2010, esses jovens estão reescrevendo as regras do jogo. Eles não apenas modificam o modo como as organizações funcionam, mas desafiam o status quo das relações de trabalho, da liderança até o formato dos ambientes corporativos, que precisam agora ser mais colaborativos e, claro, com propósito.
Para Silvana Regina Ampessan Marcon, professora da Universidade de Caxias do Sul, a Geração Z surge de um ambiente tecnológico e altamente inovador. “Eles têm uma visão mais imediatista sobre a carreira e querem prazer e significado no trabalho. Não há mais espaço para ambientes que não atendem às suas expectativas”, observa.
Autonomia é a palavra-chave. A Geração Z não se contenta com regras engessadas, ela prefere ser ouvida, trabalhar de forma independente e, claro, ter um feedback constante, algo que desafia empresas acostumadas com avaliações anuais. A estabilidade no emprego? Para eles, isso é um conceito do passado. Caso suas expectativas não sejam atendidas, a busca por novos horizontes é imediata.
Esse comportamento não é apenas reflexo de um capricho juvenil, mas também da constante presença da tecnologia em suas vidas e de um desejo incessante por equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. A diretora executiva do Instituto Hélice, Salissa Paes, confirma essa visão, citando empresas da Serra Gaúcha, como Randoncorp e Marcopolo, que se destacam ao adotar práticas tecnológicas que ressoam com os valores dessa geração, como diversidade, inclusão e sustentabilidade. “Eles buscam ambientes com comunicação mais ágil, onde a tecnologia não só facilite o trabalho, mas o torne mais eficiente”, explica.
E o modelo de trabalho híbrido e remoto, que se intensificou com a pandemia, é a cereja do bolo. A Rands, que é a vertical de negócios da Randoncorp, por exemplo, tem 65% de seus colaboradores trabalhando remotamente, algo que, além de oferecer flexibilidade, atrai talentos de diversas regiões do Brasil. Mas, mesmo com essas mudanças, as discussões sobre novas formas de emprego ainda esbarram na manutenção do tradicional modelo CLT.
Adaptação é palavra de ordem, e, como aponta Thamis Aline Zeni, gerente de Pessoas e Cultura da Rands, a convivência de quatro gerações no mesmo espaço corporativo exigiu uma revisão do modelo de liderança. “Agora, a liderança precisa ser mais colaborativa, menos autoritária, e mais aberta ao diálogo”, afirma. O feedback e a flexibilidade são peças-chave para conquistar o engajamento dessa geração. A adaptação à era digital é outro pilar que não pode ser ignorado, e a resistência a tecnologias como a inteligência artificial, embora natural, deve ser transformada em uma ferramenta estratégica para a eficiência.
Elisa Ambrosi, jornalista da geração Z e coordenadora de marketing no Prata Vieira Shopping, diz que a comunicação clara e a liderança aberta são as bases para uma boa relação no ambiente corporativo. Ela não tem dúvidas: o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal é o maior desejo da Geração Z, e as empresas que não acompanharem esse ritmo perderão seus talentos.
Entretanto, esse cenário não é isento de desafios. A chamada “demissão por vingança” é um fenômeno crescente, com a geração Z tomando decisões rápidas e muitas vezes impulsivas. Para Denise Arnesto Maschio, presidente da ARH Serrana, é preciso oferecer ambientes mais inclusivos e flexíveis, reconhecendo que os jovens não aceitam mais as práticas tradicionais de controle rígido. “A liderança precisa ser capaz de conectar as diversas gerações dentro da organização”, afirma.
Guilherme Reolon, único “Corporate Philosopher” do Brasil, observa que a Geração Z busca algo mais profundo do que um salário gordo: ela quer propósito, bem-estar e, principalmente, um ambiente corporativo que valorize o ser humano. Ele propõe a Gestão da Felicidade Corporativa, um conceito que vai além das ações coletivas, focando no autoconhecimento e no cuidado emocional dos profissionais.
O campo da educação também se reflete nessa busca por desenvolvimento. O professor de xadrez Leonardo Fiamenghi da Silveira, por exemplo, enxerga o jogo como um exercício vital para o desenvolvimento de habilidades cognitivas e emocionais. “O xadrez não só melhora a sociabilidade, como também ensina a lidar com vitórias e derrotas, habilidades essenciais no mundo corporativo”, diz ele, ressaltando a importância da concentração, do raciocínio lógico e da tomada de decisões.
Até mesmo os jovens como Luise Milke Calderaro Trindade, estudante de 15 anos, já começam a refletir sobre o futuro do mercado de trabalho, antecipando novos desafios e profissões. Para ela, “o futuro pode ser melhor, mas com dificuldades de adaptação”. Apesar da indecisão sobre a carreira, Luise demonstra que a leitura, o aprendizado contínuo e o apoio de colegas e professores são essenciais para lidar com os desafios da vida.
Eduarda Fernandes Meira, médica da Geração Z, acrescenta à conversa a importância da atualização constante na medicina, destacando o papel da tecnologia como aliada, principalmente com o uso de telemedicina. Ela vê a geração Z como uma força propulsora da transformação na área da saúde, promovendo prevenção e conscientização através das redes sociais.
Em resumo, o mercado de trabalho não está apenas sendo transformado pela Geração Z; ele está sendo reconfigurado. Para as empresas, o desafio não é apenas adaptar-se a novas formas de trabalho, mas entender profundamente os valores dessa geração. Investir em tecnologia, criar ambientes inclusivos, dar feedback constante e, claro, equilibrar a vida profissional com a pessoal, são atitudes essenciais. Quando devidamente acolhida e apoiada, a Geração Z pode se tornar o motor de uma revolução corporativa, criando novas soluções e impulsionando o crescimento das empresas que souberem se alinhar às suas expectativas.
2 comentários
Geração que só mete essa banca pq os pais ainda seguram o rojão… 😂
Vai ter boleto e família pra ver…
Tem que equilibrar, eles tem razão quando pensam que não vale matar de trabalhar, as empresas tem que entender que é uma troca mútua, não escravidão
Mas eles tb não tem responsabilidade, acham que trabalho é um parque? Cabelos coloridos, risos e ter sentido?
Qual o sentido do cara que limpa fossa? Limpar e manter operacional! Simples assim! Não precisa ter sentido de salvar o planeta
O ponto de equilíbrio é o que precisamos
Não viver para trabalhar, mas tb entender que todo trabalho é digno, desde que o empregador entenda essa troca e não seja um suga vida
É, pois é. Mas a geração Z não pode se esquecer que certas coisas não mudam nunca. Ser comprometida com a empresa, chegar no Horário, lembrar que chegar dez minutos atrasado não é chegar no horário. Estar sempre a postos e interessada em resolver situações complicadas. Ah, e não se esquecer que é preciso também falar ao telefone e não só passar mensagem. Não deve ser fácil para quem, hoje em dia, mora com os papais aos 40 anos.